quarta-feira, 3 de abril de 2013

TÁXIS CARIOCAS (Ou como criar ativos onde não se existe)


Uma coisa que reparei desde garoto e a vida de auditor só fez aprofundar a observação, é que brasileiro gosta de criar um ativo do nada, um cartoriozinho particular, etc
A nossa herança ibérica talvez explique esta necessidade de valorizar-se a posse de um ativo fixo em detrimento de grana no bolso, lucro enfim. Para quem não sabe, ativos fixos são imóveis, máquinas, equipamentos, veículos, enfim tudo aquilo que é meio de produção. E vamos parar o economês  por aqui.
Esta mania nacional vem das capitanias hereditárias, espalha-se por todos os lados e classes sociais. Todos nós, em maior ou menor grau, gostamos de ter imóveis, carros e outros trecos que nos bastaria, talvez, termos só um. E não reparamos que ao adquirirmos um destes bens, adquirimos a reboque um sócio que só nos dá custo, o Governo, que vem logo com um IPTU, IPVA, etc. E na venda do treco, ainda aparece um ITBI.
Esta mania é tão grande, que volta e meia estoura um escândalo de corrupção e a primeira coisa que o corrupto faz é comprar um apartamento e uns terrenos no Recreio.
E vamos aos táxis. Virou moda, de uns 10 anos para cá, estas cooperativas de táxis que se apropriam de uma esquina, criam um nome táxicoop da vida, colocam um telefone no poste e contratam um cara ou uma mocinha, para ficar de MC Táxi no ponto. E isto com o beneplácito da nossa Prefeitura.
Perto do meu escritório tem uma destas cooperativas, e como eu sou usuário dela e já conheço alguns dos motoristas, às vezes rolam uns papos interessantíssimos e eu posso ir fazendo minha análise sociológica de botequim. E é incrível como os caras falam do ponto com o maior orgulho, dos uniformes, da garota MC Táxi, etc. E de como falam do valor que a “vaga” na cooperativa está atingindo. Os caras se surpreendem quando digo que aquilo não vale nada, que eles só estão tendo custo desnecessário e conto como é em Barcelona, por exemplo.
Faço aqui um parênteses – nosso Prefeito e nosso Governador adoram citar Barcelona como um exemplo para tudo, por conta da Olimpíada de 1992, e que significou uma grande virada na cidade, transformando-a em um polo de turismo mundial. Trazem o ex prefeito de Barcelona para dar palestras, mas se esquecem do principal. Copiar!!! Copiar o que Barcelona fez, e quando falo em copiar, é copiar mesmo e não fazer umas coisas mal ajambradas a título de cópia.
Táxis em Barcelona. Os sujeitos fizeram um estudo de demanda por táxis na cidade, mapeando os fluxos de usuários. De onde pegavam o táxi e para onde iam. A partir deste estudo, colocaram em vários locais estratégicos os pontos de táxi. Sem “donos” é claro, já que as calçadas são públicas, são de todos. E cada ponto, em função da demanda e em função de não obstruir o tráfego, podem estacionar 2, 3 ou mais táxis. Mas existe uma placa autorizando o número máximo de táxis e o local fica marcado no asfalto. O resultado é que tanto passageiro, como taxista, sabem que ficando ali no ponto, no máximo em 5 minutos surgem um ou outro, e todos saem satisfeitos. Eu costumava pegar no ponto em frente à estação de metrô de Putxet, ponto com lugar para 3 táxis. E não demorava nem 3 minutos de espera quando não tinha táxi no ponto. Logo passava um, andando devagar, para ver se tinha passageiro esperando.
Para o taxista é uma vantagem, pois ele não tem o custo do “ativo”. Não tem que ter telefone no poste, não tem MC Táxi. Mas a cooperativa pode existir e por diversas vezes eu pegava um táxi em Barcelona e o taxista me passava o cartão da cooperativa, e ele me dizia: “Se precisar de táxi a qualquer hora, pode ligar, que um táxi vai a sua casa.” Minha filha várias vezes usava isto e a impressão que me passava é que a “atendente” do telefone deve ser a esposa ou namorada de algum taxista afiliado, e que depois passava um rádio para os afiliados da cooperativa.
Por que não copiar isto de uma vez?  Cada tempo que passa, a sociedade vai adquirindo um problema por conta de que os “donos dos pontos” vão alegar algum direito adquirido.
E, pelo que me lembre Nova Iorque não tem ponto de táxi, muito menos Londres e Paris.
Acorda Prefeitura do Rio!!!!!


2 comentários:

  1. Muito bom,mas voltando a minha realidade carioca posso dizer que; além de confirmar sua postgm sobre pontos de taxi,posso garantir tbm que isso vai muito mais além,sou taxista e ñ pertenço a cooperativas que chegam a cobrar 1.200,00 por mês de cada taxista,mas o problema é outro; Nossos pontos de taxi são públicos e destinados a todos aqueles que são taxistas,correto?, só que eu ñ consigo parar em nenhum desses pontos que acho que tenho direito,eles montam um verdadeiro escritório no ponto e impedem que outros que ñ pertencem aquela associação parem,muitas das vezes o ponto está sem carro e com uma fila enorme de passageiros que são abordados por um integrante da cooperativa,o mesmo diz que pegar taxi que ñ pertence aquele ponto é perigoso. Gostaria muito de ouvir sua opinião e sua orientação de como devo proceder quando sou expulso dos pontos,afinal; eu tenho esse direito ou não? Abçsss !!!

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    1. Caro Táxi Legal,
      Mais cedo ou mais tarde, esta coisa de "ponto cativo" vai acabar, até porque o custo de manter isto pelos "cooperados fajutos" é alto. E, também, algum Prefeito de plantão vai acabar com a farra e dar uma dura. Não demora um "choque de ordem" nas calçadas.
      Quanto mais gente viajando para o exterior, acaba pedindo coisas iguais por aqui, e que funcionam bem lá fora.

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