segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A ENERGIA SOLAR E A INSANIDADE TRIBUTÁRIA BRASILEIRA


Eu tinha prometido que este blog procuraria ser o menos complicado possível, tratando de nossa infra estrutura do dia a dia.
Mas quando eu às vezes não cumpro esta promessa, procuro ser o mais didático possível, pois grande parte de meus leitores não têm a obrigação de entender detalhes técnicos.
Uma coisa que aprendi ao longo da vida é sempre ouvir quem tem mais experiência que nós. E aprender, para mim, é sempre bom. Em 2002, a convite de um cliente do setor elétrico, fui assistir uma palestra do Prof. Hermann Scherr no CEPEL. O Prof. Scherr, além de renomado cientista, era deputado no parlamento alemão. Ele estava lançando um novo livro , “Economia Solar Global”, e deu uma palestra sobre as energias alternativas. Na época, energia solar e eólica, no Brasil, eram realmente energias alternativas, pois eram tidas como coisas de malucos naturebas. Mas o que mais me impressionou na palestra foi o alerta que Scherr dava sobre o fato de que, para existir qualquer nova matriz de geração, não eram necessários somente critérios técnicos. eram necessárias decisões políticas.
Este escriba assistindo a palestra do Prof. Hermann Scherr, no CEPEL, em 2002Fonte: CRESESB/CEPEL

O interessante é que isto se concretizou no Brasil com a energia eólica. Já em meados de 2002, o Governo Federal lançou o PROINFA, programa que incentivou o uso de fontes de geração alternativas, tais como eólica, biomassa e pequenas centrais hidroelétricas. Surpreendentemente, a matriz solar ficou de fora.
O resultado é que a energia eólica decolou, a energia através de biomassa se consolidou e o país hoje tem 9,8% de sua energia produzida por estas matrizes. Ou seja, com os incentivos corretos, novas fontes de geração de energia são adotadas. E é óbvio que a principal fonte de geração do país sempre será a hídrica, que ainda responde por 64,4% da geração nacional.
O que comentarei a seguir é sobre os incentivos à produção de energia via matriz solar e tributação. E como este Blog foca na importância dos tributos que pagamos e no retorno que os Governos nos dão, fazer a ligação entre infra estrutura e tributos, tem tudo a ver.
Outro dia, ouvindo o jornalista André Trigueiro no seu programa Mundo Sustentável, fiquei pasmo com uma notícia que ele deu. O negócio era tão absurdo, que fui conferir.
No final do ano passado, a ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica emitiu norma para incentivar a micro geração de energia solar, através de painéis fotovoltaicos. A medida emitida pela agência reguladora visa a incentivar a produção de energia elétrica por consumidores individuais, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas. E o que quer dizer isto? Significa que produtores independentes podem geram energia a partir do uso de coletores fotovoltaicos. Ou seja, um shopping center tem uma grande área descoberta de estacionamento. Pode cobri-la com coletores solares, gerar energia, e se existir excedente de produção – a diferença entre o que produz e consome, pode vender este excedente para a distribuidora de energia local.
Agora, aparece a insanidade tributária insaciável dos governos estaduais. Para melhor entendimento de leigos, o principal imposto cobrado por governos estaduais é o ICMS, e o mesmo é legislado baseando-se no Código Tributário Nacional e nos regulamentos do ICMS de cada estado. Para se evitar confusões maiores entre estados, existe o CONFAZ – Conselho Nacional de Política Fazendária, composto por representantes das fazendas estaduais, mais representantes da Receita Federal e do Tesouro Nacional. Periodicamente, o CONFAZ se reune e emite normas relativas ao ICMS.
E a doideira é que, na contramão do incentivo à energia solar dado pela ANEEL, o CONFAZ decidiu em abril último não tributar o produtor independente de energia solar pela diferença entre o produzido e o consumido. O CONFAZ determinou que este produtor deverá pagar o ICMS pelo total recebido, e não pela diferença. Ou seja, o órgão regulador – ANEEL, dá um incentivo e os secretários estaduais de fazenda o tiram. Repete-se aqui a mesma doideira que já acontece no setor de petróleo, que é taxado de tudo quanto é lado.
Realmente, acho que está faltando ao Governo Federal um “Garrincha”, pois está faltando combinar com os “russos”. Parece aquela foto célebre do ex-presidente Jânio Quadros, um pé para um lado e o outro em sentido contrário.
A energia solar é a ideal para sistemas isolados e para produtores independentes. Como um exemplo, posso citar a Alemanha, que já produz mais de 32 Gigawatts de energia solar, a maior parte neste esquema de produtor independente.
Virou casa de Noca, pois todo mundo manda e ninguém obedece, e desta forma tão cedo não veremos vingar no País a energia solar. Estão matando a galinha dos ovos de ouro e deixam de arrecadar no futuro, tentando arrecadar qualquer coisa agora.

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