Esta semana de início de março
é especial para mim, já que minha banda faz 18 anos – Oba! Atingimos a
maioridade e estamos comemorando com um super show, e fazem 40 anos de uma obra
prima do rock mundial, o disco The Dark Side of The Moon, do Pink Floyd, o
disco mais vendido da história e que mais tempo esteve na lista da Billboard.
Daí a ideia de botar no papel o que escrevo agora.
E o leitor do blog poderia estar perguntando: Qual a ligação de
educação com infraestrutura? Este cara ficou doido. E eu respondo: Tudo.
Um economista, meu conhecido,
o Sérgio Besserman, cansa de bater na tecla que brasileiro pensa muito em
termos de hardware, ou seja, na fábrica, no estádio para a Copa, nas vias do
BRT, mas sempre nos esquecemos do software. O software, nestes casos, é quem
opera o hardware, ou seja, o ser humano.
Se não existirem pessoas
capazes de entenderem os equipamentos e processos, enfim, de saberem ler e
compreender um manual de operação, não adianta ter o hardware. Ele será
inservível, ou mal operado.
Desta forma, a educação
universal e de qualidade medianamente razoável, é extremamente necessária para
qualquer país que queira se desenvolver de forma sustentável e perene,
diferentemente do que acontece por aqui, vamos na base do vôo da galinha, aos
saltos.
Este é um artigo sobre o que
penso há uns 10 anos e que toca num aspecto que me é muito prezado. A música. E
o exemplo de como uma boa educação massificada dá frutos em 15 anos.
Por que houve a British Invasion no rock and roll no
início dos anos 60 e, sendo o rock uma invenção norte americana? Por que
músicos ingleses dominaram (e dominam) o pop e o rock mundial (em quantidade e
qualidade), se compararmos com o cenário norte americano? E são países bem
diferentes em área geográfica e tamanho de população. Proporcionalmente, os
britânicos dão de dez a zero nos EUA.
A história explica e agradeço
aos mestres de história que tive (obrigado Ella, Ilmar, Manoel Mauricio e
Francisco Jacques).
A Grã Bretanha sofreu com as 2
grandes guerras mundiais e tirou lições das duas. Ao fim da Primeira Grande
Guerra, poucas foram as políticas públicas voltadas aos sobreviventes dos
campos de batalha, e no tocante a controle de armas. E para quem não sabe, a
Grã Bretanha lutou em duas guerras ao mesmo tempo – a grande guerra e a guerra
da Irlanda. Em 1917, deram independência à Irlanda, pois não dava para manter
duas frentes de batalha. Em 1918, com o fim das guerras, o resultado era
economia destroçada, o início do declínio do Império, criminalidade nas alturas.
Como curiosidade, poucas eram as armas que eram numeradas à época, e o controle
de armamento era fraco. Imaginem a mistura de desemprego, crise e armas. E
britânico gosta de um whisky e uma cerveja (ambos excelentes, por sinal).
As consequências foram que na
década de 30 adotou-se o controle de armas, e alguns estudiosos começaram a
discutir coisas do tipo: universalização de um ensino básico e, em caso de nova
guerra, a garantia do emprego para quem voltasse vivo. Até então, o ensino
universal se resumia a 6 anos de uma coisa que eles chamavam de gramar school, e a maior parte das
crianças saia das escolas entre os 11 e 12 anos de idade. E eram menos de 50.000
pessoas cursando ensino superior.
Começou a 2a Grande
Guerra, e foi garantido a quem voltasse emprego e salário iguais nos mesmos
locais de trabalho. Mas, e o que fazer com os jovens que atingissem uma idade
para trabalhar? Fim de guerra sempre tem desemprego e economia destroçada, sem
capacidade de absorver mais mão de obra.
Para resumir, em cima de
várias pesquisas feitas aos longos dos anos 20 e 30, foi promulgado, em 1944, o
Butler Act, que universalizou a
educação e aumentou o número de anos do curriculum mínimo. Além disso, criou um
segundo grau de três tipos (mais avançado, técnico e menos avançado). Havia um
objetivo geral, que era diminuir a diferença de classes, via educação e manter
as crianças o maior tempo possível nas escolas ensinando-as qualquer coisa. É
mais barato manter escolas do que reformatórios e presídios. Existe um monte de
artigo acadêmico na internet sobre o Butler
Act para quem quiser se aprofundar.
O resumo desta história é que
o currículo dos cursos para os “menos avançados” era uma mistura de artes,
música, coisas domésticas, além do básico de inglês e matemática.
Os frutos vieram 15 anos mais
tarde, na forma de excelentes músicos e letristas, excelentes artistas
plásticos, excelentes designers de moda, entre outras coisas. E na minha
opinião, os britânicos salvaram o rock e o blues, que estavam meio mortos nos
EUA no início dos anos 60. Para quem quiser saber, coloque pedido no blog.
E vamos às curiosidades.
·
Mick Jagger é
economista formado pela London School of Economics, uma das mais prestigiadas
escolas de economia do mundo;
·
Brian May,
guitarrista do Queen, é PhD em astrofísica;
·
Fred Mercury,
cantor do Queen, era formado em design gráfico e, mesmo antes do sucesso do
Queen, já tinha um renome no mundo da moda de Londres;
·
Ron Wood,
guitarrista dos Rolling Stones, é um tremendo pintor, e tem seus trabalhos
expostos e comercializados na Castle Galeries, de Londres – vejam no site.
·
John Lennon era
também um excelente caricaturista;
E só citei exemplos musicais,
mas na moda temos Mary Quant (a inventora da mini-saia) e Vivienne Westwood (a estilista
dos punks), Peter Blake na pintura, (fez a capa do LP Sargent Peppers).
Poderia ficar um dia inteiro
citando exemplos, mas todos os aqui citados estão (ou estariam) na faixa dos 70
a 75 anos de idade, e foram o produto direto de um processo de massificação de
ensino, com foco em assuntos técnicos e ligados às artes e que os manteve até
os 16 ou 17 anos dentro de salas de aula.
O resultado veio nos anos 60 e
a maior parte destes famosos, hoje é sir ou dame, em retribuição aos serviços
prestados à economia britânica e à divulgação da cultura britânica. Arte também
é economia.
Enquanto isso .... Aqui no Brasil, o nosso segundo grau patina e
derrapa na curva, sumiram dos currículos o ensino de artes e música. Só para
lembrar aos esquecidos sessentões brasileiros - tínhamos aulas de música nas
escolas, toda escola pública tinha um piano, aprendia-se a ler uma partitura
(pelo menos de 1 linha e em clave de sol). Eu fui de escola pública do jardim
de infância à faculdade e tinha aula de música na escola.
E só para complementar, a
indústria brasileira de instrumentos musicais, foi praticamente para o vinagre.
Eram três grandes fábricas de pianos, que me lembre. Realmente dá pena e
inteligência não tem pátria. É massificar, que o resultado aparece. Só que em
ensino, o resultado leva de 15 a 20 anos para aparecer. A psique brasileira
imediatista terá paciência para isto?
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