sábado, 9 de março de 2013

EDUCAÇÃO E INFRAESTRUTURA


Esta semana de início de março é especial para mim, já que minha banda faz 18 anos – Oba! Atingimos a maioridade e estamos comemorando com um super show, e fazem 40 anos de uma obra prima do rock mundial, o disco The Dark Side of The Moon, do Pink Floyd, o disco mais vendido da história e que mais tempo esteve na lista da Billboard. Daí a ideia de botar no papel o que escrevo agora.
E o leitor do blog  poderia estar perguntando: Qual a ligação de educação com infraestrutura? Este cara ficou doido. E eu respondo: Tudo.
Um economista, meu conhecido, o Sérgio Besserman, cansa de bater na tecla que brasileiro pensa muito em termos de hardware, ou seja, na fábrica, no estádio para a Copa, nas vias do BRT, mas sempre nos esquecemos do software. O software, nestes casos, é quem opera o hardware, ou seja, o ser humano.
Se não existirem pessoas capazes de entenderem os equipamentos e processos, enfim, de saberem ler e compreender um manual de operação, não adianta ter o hardware. Ele será inservível, ou mal operado.
Desta forma, a educação universal e de qualidade medianamente razoável, é extremamente necessária para qualquer país que queira se desenvolver de forma sustentável e perene, diferentemente do que acontece por aqui, vamos na base do vôo da galinha, aos saltos.
Este é um artigo sobre o que penso há uns 10 anos e que toca num aspecto que me é muito prezado. A música. E o exemplo de como uma boa educação massificada dá frutos em 15 anos.
Por que houve a British Invasion no rock and roll no início dos anos 60 e, sendo o rock uma invenção norte americana? Por que músicos ingleses dominaram (e dominam) o pop e o rock mundial (em quantidade e qualidade), se compararmos com o cenário norte americano? E são países bem diferentes em área geográfica e tamanho de população. Proporcionalmente, os britânicos dão de dez a zero nos EUA.
A história explica e agradeço aos mestres de história que tive (obrigado Ella, Ilmar, Manoel Mauricio e Francisco Jacques).
A Grã Bretanha sofreu com as 2 grandes guerras mundiais e tirou lições das duas. Ao fim da Primeira Grande Guerra, poucas foram as políticas públicas voltadas aos sobreviventes dos campos de batalha, e no tocante a controle de armas. E para quem não sabe, a Grã Bretanha lutou em duas guerras ao mesmo tempo – a grande guerra e a guerra da Irlanda. Em 1917, deram independência à Irlanda, pois não dava para manter duas frentes de batalha. Em 1918, com o fim das guerras, o resultado era economia destroçada, o início do declínio do Império, criminalidade nas alturas. Como curiosidade, poucas eram as armas que eram numeradas à época, e o controle de armamento era fraco. Imaginem a mistura de desemprego, crise e armas. E britânico gosta de um whisky e uma cerveja (ambos excelentes, por sinal).
As consequências foram que na década de 30 adotou-se o controle de armas, e alguns estudiosos começaram a discutir coisas do tipo: universalização de um ensino básico e, em caso de nova guerra, a garantia do emprego para quem voltasse vivo. Até então, o ensino universal se resumia a 6 anos de uma coisa que eles chamavam de gramar school, e a maior parte das crianças saia das escolas entre os 11 e 12 anos de idade. E eram menos de 50.000 pessoas cursando ensino superior.
Começou a 2a Grande Guerra, e foi garantido a quem voltasse emprego e salário iguais nos mesmos locais de trabalho. Mas, e o que fazer com os jovens que atingissem uma idade para trabalhar? Fim de guerra sempre tem desemprego e economia destroçada, sem capacidade de absorver mais mão de obra.
Para resumir, em cima de várias pesquisas feitas aos longos dos anos 20 e 30, foi promulgado, em 1944, o Butler Act, que universalizou a educação e aumentou o número de anos do curriculum mínimo. Além disso, criou um segundo grau de três tipos (mais avançado, técnico e menos avançado). Havia um objetivo geral, que era diminuir a diferença de classes, via educação e manter as crianças o maior tempo possível nas escolas ensinando-as qualquer coisa. É mais barato manter escolas do que reformatórios e presídios. Existe um monte de artigo acadêmico na internet sobre o Butler Act para quem quiser se aprofundar.
O resumo desta história é que o currículo dos cursos para os “menos avançados” era uma mistura de artes, música, coisas domésticas, além do básico de inglês e matemática.
Os frutos vieram 15 anos mais tarde, na forma de excelentes músicos e letristas, excelentes artistas plásticos, excelentes designers de moda, entre outras coisas. E na minha opinião, os britânicos salvaram o rock e o blues, que estavam meio mortos nos EUA no início dos anos 60. Para quem quiser saber, coloque pedido no blog.
E vamos às curiosidades.
·      Mick Jagger é economista formado pela London School of Economics, uma das mais prestigiadas escolas de economia do mundo;
·      Brian May, guitarrista do Queen, é PhD em astrofísica;
·      Fred Mercury, cantor do Queen, era formado em design gráfico e, mesmo antes do sucesso do Queen, já tinha um renome no mundo da moda de Londres;
·      Ron Wood, guitarrista dos Rolling Stones, é um tremendo pintor, e tem seus trabalhos expostos e comercializados na Castle Galeries, de Londres – vejam no site.
·      John Lennon era também um excelente caricaturista;
E só citei exemplos musicais, mas na moda temos Mary Quant (a inventora da mini-saia) e Vivienne Westwood (a estilista dos punks), Peter Blake na pintura, (fez a capa do LP Sargent Peppers).
Poderia ficar um dia inteiro citando exemplos, mas todos os aqui citados estão (ou estariam) na faixa dos 70 a 75 anos de idade, e foram o produto direto de um processo de massificação de ensino, com foco em assuntos técnicos e ligados às artes e que os manteve até os 16 ou 17 anos dentro de salas de aula.
O resultado veio nos anos 60 e a maior parte destes famosos, hoje é sir ou dame, em retribuição aos serviços prestados à economia britânica e à divulgação da cultura britânica. Arte também é economia.
Enquanto isso ....  Aqui no Brasil, o nosso segundo grau patina e derrapa na curva, sumiram dos currículos o ensino de artes e música. Só para lembrar aos esquecidos sessentões brasileiros - tínhamos aulas de música nas escolas, toda escola pública tinha um piano, aprendia-se a ler uma partitura (pelo menos de 1 linha e em clave de sol). Eu fui de escola pública do jardim de infância à faculdade e tinha aula de música na escola.
E só para complementar, a indústria brasileira de instrumentos musicais, foi praticamente para o vinagre. Eram três grandes fábricas de pianos, que me lembre. Realmente dá pena e inteligência não tem pátria. É massificar, que o resultado aparece. Só que em ensino, o resultado leva de 15 a 20 anos para aparecer. A psique brasileira imediatista terá paciência para isto?


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