Eu deveria estar comentando as barbaridades cometidas
por diversas partes, relativas à tragédia de Santa Maria – RS e as
consequências país a fora, principalmente aqui no Rio.
Vocês devem ter lido sobre fechamentos
de casas, alvarás de Prefeitura, inspeções (válidas ou não) de bombeiros, etc.
Em resumo, isto tudo demonstra
a incúria do poder público – qualquer que seja ele – em organizar razoavelmente
qualquer atividade, principalmente na área de serviços.
Serviços, em nosso país,
sempre foi visto como coisa menor, ligado à trabalhos manuais de baixa
qualificação e nossos dirigentes se esquecem de que o mundo em que vivemos não
é mais um mundo industrial. É, sim, um mundo de serviços, e mesmo a indústria
tradicional está se transformando numa indústria gestora de serviços.
Resumindo, entrem hoje numa
fábrica de automóveis e a dona da marca tem, no máximo, 10% de empregados entre
as pessoas que transitam em sua fábrica. Os outros 90% (ou mais) são
prestadores de serviços de montagem, empregados dos fornecedores da montadora.
Para não nos desviarmos mais
do assunto principal, vamos lá. Para quem me conhece, sou morador de um bairro
no Rio chamado Itanhangá, nas fraldas da Floresta da Tijuca, que se aboleta
numa cadeia montanhosa que separa a cidade em 3 partes. O Itanhangá, para quem
não é do Rio, é uma extensão da Barra da Tijuca. Do outro lado do morro coberto
pela Floresta ficam os bairros da Tijuca, de um lado e a Zona Sul e o Centro do
Rio. No meu trânsito diário, uso caminhos não ortodoxos (e já descoberto por
muitos) no meu deslocamento entre casa e trabalho. Cruzo a montanha, apreciando
a paisagem do Rio vista do alto.
Neste meu caminho, passo pelo
acesso ao Corcovado e, desde o fim do ano passado, com o início do verão, tem
aumentado enormemente o fluxo de turistas no local. A muvuca é enorme, com
flanelinhas, pessoas (que obviamente não são turistas) flanando pelo local, e
PMs e Guarda Municipal passivamente olhando a coisa, sem tentar dar um mínimo
de organização à coisa.
As fotos a seguir dão uma
pequena ideia da confusão.
A fila das pessoas esperando as vans
Turistas, vans, atravessadores, etcs
Mas para quem não sabe a
história completa, vamos lá. A área das Paineiras é fechada à veículos nos fins
de semanas e feriados desde 1985, por Decreto da Prefeitura do Rio (salve Saturnino
Braga!). Este escriba participou do movimento em prol deste fechamento. Se
pedirem muito, publico a história no blog. Há cerca de uns 8 anos atrás, a área
passou a ser administrada pelo IBAMA, pois a Floresta da Tijuca é parque
nacional e, em uma tentativa de organizar a coisa, fecharam o acesso das
Paineiras ao Corcovado, colocando uma cancela e credenciando umas vans que
fariam o transporte das pessoas das Paineiras ao Corcovado, uma subida de
uns1.800 metros.
Passado um tempo, houve uma
denúncia de desvios de verbas e esta história nunca foi bem explicada, mas o
que ficou foi que credenciaram somente uma empresa de vans e o ingresso e
transporte ficou exclusivamente a cargo do IBAMA, que colocou uma bilheteria no
local.
Com a volta do grande fluxo de
turistas para o Rio, a coisa ficou incontrolável e eu e outras pessoas que
descobriram a alternativa de fuga aos engarrafamentos de Barra – Centro,
reparamos que o local ficou congestionado. Às vezes perco uns 15 minutos para
andar 200 metros, numa confusão de carros procurando local para estacionar e
pessoas em intermináveis filas comprando ingressos e esperando as vans, tudo
isto misturado em uma estrada de uns 4 metros de largura, se tanto.
Estava já para escreve um
artigo para o blog, sugerindo uma solução, quando leio hoje no Globo
(02.02.2012) que vão colocar uma barreira na junção da Estrada das Paineiras
com a do Mirante de Dona Marta, para limitar o acesso dos carros ao local, em
um máximo de 150 carros no estacionamento do acesso ao Corcovado.
Isto é um absurdo, e, igual a
piada do sujeito que tira o sofá da sala. O problema não são os carros, são as
pessoas que estão dentro deles. E vamos ao que seria a solução inteligente,
nada mais do que uma cópia do que já se faz no exterior, e com sucesso. Mas
aparentemente, brasileiro (ou as autoridades daqui) têm uma compulsão atávica
em tentar reinventar a roda. Odeiam copiar, acham que são mais inteligentes.
Quem já viajou ao exterior, e
tentou ir a locais, tais como: Torre Eiffel, Alhambra, Castelo de Windsor, tour
no Palácio de Buckingham, e outros que algum leitor lembre, o visitante compra
um ticket com horário pré fixado. Ou
seja, alguém fez um estudo de fluxo de pessoas e verifica que o local só
comporta um número tal de visitantes em um espaço determinado de tempo.
O local que conheço mais
parecido com o Corcovado, em termos de geografia, é o Palácio do Alhambra, na
cidade de Granada. Fica em uma colina (não tão alta e íngreme como o
Corcovado), a estrada de acesso é estreita (tem mais de 800 anos), o espaço
para estacionamento no complexo é mínimo e os administradores do local vendem
tickets para grupos de cerca de 250 pessoas, com entrada a cada 15 minutos. E
não tem jeitinho, e o ingresso hoje custa 48 euros e as pessoas pagam. Vive
cheio.
O complexo do Alhambra, além
do palácio mourisco, tem um palácio renascentista construído por Carlos V. São
muitas pessoas por dia que visitam o local, em ordem e sem bagunça, sem
flanelinhas, sem achacadores, sem etcéteras. E, civilizadamente o que se faz
para chegar ao local? Ou se vai de ônibus de excursão ou se acerta com um táxi
para te levar ao local e depois ele te busca, tudo por telefone, sem bandalhas,
cobranças “no tiro” e sem outros etcéteras e tais.
Será que não dava para
copiarmos as boas ideias que funcionam?
E, pela paranoia que nossas autoridades
resolveram adotar no pós tragédia de Santa Maria, seria bom se preocuparem com
o que ocorre ali, pois não sei como já não ocorreram acidentes, atropelamentos
e outras coisas nas Paineiras.
E aliviando o final sem tragédias, para
quem pensa em ir à Espanha. Visitem Granada e deem um pulo no Alhambra. Vale a
viagem, e vá de trem. De Madri a Córdoba é um TGV e de Córdoba a Granada é um
trem decente. Na volta, aluguem um carro até Córdoba e parem em Montilla. Façam
uma visita guiada à vinícola Perez Barquero, tradicional produtora de um vinho
de sobremesa fantástico da uva Pedro Ximenez (ou PX). Divino. E em Córdoba,
visitem o bairro velho, e a sua mesquita e as ruínas da sinagoga. Vale ficar um
dia na cidade.
E, pela paranoia que nossas autoridades
resolveram adotar no pós tragédia de Santa Maria, seria bom se preocuparem com
o que ocorre ali, pois não sei como já não ocorreram acidentes, atropelamentos
e outras coisas nas Paineiras.
E para quem pensa em ir à Espanha.
Visitem Granada e deem um pulo no Alhambra. Vale a viagem, e vá de trem. De
Madri a Córdoba é um TGV e de Córdoba a Granada é um trem decente. Na volta,
aluguem um carro até Córdoba e parem em Montilla. Façam uma visita guiada à
vinícola Perez Barquero, tradicional produtora de um vinho de sobremesa
fantástico da uva Pedro Ximenez (ou PX). Divino. E em Córdoba, visitem o bairro
velho, e a sua mesquita e as ruínas da sinagoga. Vale ficar um dia na cidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário