quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

METRÔ, OBRAS E PLANEJAMENTO (2)


Ando cismado com este negócio de canteiro de obra aqui no Brasil, pois sou morador do Rio de Janeiro, mais precisamente no Itanhangá. E para quem não é do Rio, o Itanhangá é a região da base das montanhas na entrada da Barra da Tijuca, para quem vem da Zona Sul.
Estão construindo o metrô para Barra, a famosa Linha 4, que na verdade é um prolongamento da Linha 1. E como a 2 também é um prolongamento da Linha 1 e a 3 não existe, temos somente uma linha de metrô.
Festa esta digressão, vamos ao que interessa. A Linha 4 termina na entrada da Barra da Tijuca. A confusão criada para se fazer um túnel cavado em rocha e uma estação semi enterrada em areia é tremenda. Eu já consegui contar 5 canteiros de obras, sendo que 3 não são no local da obra, são em locais afastados. Fizeram uma mudança enorme no trânsito, com fechamento de retornos, inversões de mão e os benditos cones. Alguém consegue entender fileiras de quilômetros de cones, para proteger tapumes e, incrivelmente, os guard rails colocados? É a proteção da proteção. O resultado são enormes engarrafamentos, atrasos de todos, tudo por falta de planejamento e descaso com quem paga a festa toda.
Lembrei-me de duas mega obras em Londres, que vi há pouco tempo e as duas são obras de estações de metrô.
Para que não sabe, este escriba é músico nas horas vagas, toca em banda de blues-rock e gosta de ver shows e visitar lojas de instrumentos musicais aonde vai. Em Londres, a região das lojas de instrumentos é a Denmark Street, perto de Totteham Court Station. Não ia a Londres faziam 4 anos, e fui à Denmark Street. Tomei um susto, pois achei que tinham implodido a rua. Um canteiro de obras gigantesco obstruía a antiga ligação entre a Oxford Street (rua do grande comércio londrino) e a ruazinha dos músicos. Tive que contornar o canteiro de obras.
Curioso, perguntei o que era aquilo. Era a nova estação de metro de Totteham Court, e que iria servir de estação de ligação com a linha 2 do Crossrail, sistema de trens suburbanos que vai passar por ali. Depois de visitar as lojas e fazer as comprinhas de coisas musicais (somente uma coleção completa de partituras de piano das músicas de Scott Joplin – lembram de Golpe de Mestre?), dei uma passeada pelo local e vi a organização. Perfeito, tudo arrumado, nada de sujeira ao redor, confusão de cones, caminhões, etc. Vejam a foto aérea abaixo. Perfeita organização em pleno centro de uma cidade grande.



Caminhando pela Oxford Street, pois Dona Patroa e Dona Filha estavam olhando (???) umas vitrines na mesma, vejo que existiam obras para a ampliando a estação de Bond Street. Mesma coisa. Tudo organizado, um tapume sem bloquear nenhum centímetro da calçada. Vejam a foto que obtive na página do consócio construtor da obra. Fui pesquisar mesmo e vi na página da internet que o Sindicato das Empreiteiras de Obras do Reino Unido tem uma avaliação de 8 itens – segurança, meio ambiente, prestação de contas, cortesia com a vizinhança, aspecto, respeito, responsabilidade, consideração com terceiros. A pontuação máxima é de 40 pontos, sendo a nota 5 a maior para cada item. O consórcio construtor desta obra obteve 38 pontos. Ou seja, obra organizadíssima, com os menores impactos possíveis para a população, ao contrário do que se vê por aqui. Vejam a obra de Bond Street Station abaixo.


Por que não copiarmos estas coisas boas? E por que nossas empreiteiras não fazem o que o sindicato inglês faz observando a avaliação da qualidade das obras no tocante ao relacionamento com o seu entorno?
Fica a sugestão.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

METRÔ, OBRAS E PLANEJAMENTO


Antes de irmos ao assunto, vamos a uma breve introdução. Quando pensei em fazer o Blog da Infra, em meados do ano passado, meu amigo e sócio Sérgio Leite – ele já foi personagem de blog em Portugal, onde trabalhou e morou por 16 anos – recomendou-me fazer um estoque de artigos. Ele já tinha experiência com blogs e falou-me que o dia a dia dos negócios atrapalhava a criação dos artigos, e que seria bom ter uns 3 meses de artigos na prateleira, caso resolve-se postar um artigo por semana.
Fiz o que ele recomendou, mas com o que acontece de contratempo...  O que adianta eu ter um estoque de uns 10 artigos, se a turma governamental insiste em fornecer mais material para artigos, antes mesmo de eu esgotar o estoque. Realmente, é probleminha de infraestrutura diária atormentando a todos. Enfim, não vai faltar assunto para comentar.
Agora é o Metro do Rio, o minhocão carioca. Único metrô do mundo a serpentear por toda uma cidade. Após a ligação com a Barra, certamente farão uma ligação Barra a Pavuna e aí ficará perfeito. Será a nossa “Circle Line” (de Londres), só que passando pela cidade inteira.
Mas vamos lá. Lemos e ouvimos nas rádios que, no Rio de Janeiro, interditaram 2 estações, em virtudes das obras de construção do prolongamento da Linha 1 para a Barra – esta história de linha 4 é piada, é prolongamento mesmo. Como deixar mais de 45 mil usuários no trecho sem o metrô? E para obra de interligação?
Vou citar 2 exemplos que vi, não foi ninguém me contando e se souberem de mais um exemplo, mandem comentário ao blog.
Nova Iorque, de 1997 a 1998. As linhas 1, 2 e 3 do metrô de NYC passam em uma estação quase em frente ao Lincoln Center. Esta estação, em 1996, fez 90 anos e precisava de uma baita reforma, inclusive nos seus acessos. Ficou cerca de um ano e meio interditada e vocês acham que foi uma grande confusão? Nadinha. Os trens passavam direto por ela, e quem tinha que saltar nela, ou saltava na estação anterior ou na posterior. Mais ainda, o canteiro de obras. Esclareço que esta estação está na Broadway, quase na esquina da Rua 66 oeste. Broadway interditada? Um mega canteiro de obras como vemos por aqui? 
Nadinha. Um buraco, com tapume, medindo uns 15 x 7 metros, e por ali é que se descia o necessário, ou se transportavam por trens durante à madrugada.
Vejam na foto abaixo, como está hoje, com o elevador para a descida de deficientes e uma das escadas rolantes. O tapume abrangia esta área, da escada e do elevador, somente isto. E consultando um jornal da época, vi que 11.000 pessoas usavam esta estação em 1996. Eu vi a obra quando passei por ali, coisa limpa, arrumada, sem confusões, sem canteiros de obras por todos os lados, sem os benditos cones laranjas por todos os cantos.


Outra obrinha bem organizada, também de metrô. Barcelona, mesmo com a crise, está construindo mais 3 linhas de metrô. Tem uma, a linha 9, que vai cortar quase toda a cidade pelo norte e terminar no aeroporto, aliás, um belo aeroporto, assunto para uns 100 blogs brasileiros.
Esta linha, em um bairro agradável chamado Putxet, vai cruzar com uma linha já existente, a linha 7, e que tem uma estação chamada El Putxet. Esta estação fica na Avenida Balmes em frente a uma praça, onde existe o Mercado de San Gervasi. Na praça, será construída uma nova estação para a linha 9, interligada à estação da linna 7, já existente. Em baixo da praça, funciona um estacionamento público.  Vocês pensam que demoliram o mercado para depois reconstruí-lo? Demoliram o estacionamento? Pelo menos aqui seria assim, e vide a Praça Nossa Senhora da Paz. Em Julho de 2012, vi a praça cercada por um tapume, estão construindo a nova estação, mas o estacionamento funciona, o mercado está lá, com um supermercado Consum funcionando e um monte de pequenas lojinhas também funcionando. E o canteiro de obras? Uma área imensa, com um monte de áreas auxiliares por perto. E aquela confusão de cone pra lá e pra cá? Nada, tudo arrumadinho e planejado. E a Espanha continua em crise.
Em resumo, o que falta aqui é planejamento e gestão. Dá para fazer grandes obras sem muito barlho, sem usar um monte de espaço, tendo que demolir um monte de coisa, para depois reconstruir, ou não. E perturbar a vida de quem já paga um monte de imposto.
Comentei estes 2 casos, porque se há planejamento e gerenciamento, pode-se fazer obras organizadas, quase limpas, sem muitos transtornos para a população. E um adendo, os locais que eu citei, eu os já conhecia sem as obras. Deu para comparar.
E para o Prefeito e Governador do Rio que gostam de citar Barcelona como exemplo: Senhores copiem e depois aprimorem. Não é feio copiar o que é bom, aliás aprendemos a escrever copiando e ninguém se envergonhou ou se deu conta disto.
E vamos ao seviço de utilidade pública Blog da Infra.
Em Barcelona – Putxet é um bairro agradável, lembra uma Copacabana sem praia nos anos 50. No Mercat de San Gervasi já citado, tem uma lojinha de massas artesanais, de um italo argentino, que além das excelentes massas, tem o melhor tiramisú do mundo. Vende o potinho, ou se você morar por lá, ou ficar lá uma temporada, leve uma tigela e o cara, de um dia para o outro, te enche a mesma de tiramisú. É barato.
Seguindo a linha 7 do metrô – Putxet é a penúltima estação, você chega na estação e bairro de Tibidabo. Vale a pena pegar o bonde (das antigas) e subir o morro, e no final da linha, ainda tem um funicular (plano inclinado) que sobe mais ainda. Uma tremenda vista de toda a cidade.  É o Corcovado deles.  Bom também para os atletas, pois é uma subida íngreme, mas suportável, de uns 2 a 3 quilômetros e o prêmio é a vista. Na ladeira (Av. de Tibidabo) por onde passa o bonde, tem um dos melhores restaurantes de carnes da Espanha, o Asador de Aranda.
Em NYC – Falei do Lincoln Center. Uma antiga amiga novaiorquina, cujo contato perdi (tenho que procurá-la em alguma rede social), me deu esta dica. Se você quer ir a um concerto, balé ou ópera no Lincoln Center, dê uma passada na bilheteria umas 2 horas antes do início do evento. Vai ter sempre uma sobra ou alguém tentando vender ingresso e não é cambista. Esta amiga me dizia que sempre alguém fica doente, casais brigam no dia do evento, e vão tentar vender o ingresso perto da bilheteria. Só tenha cuidado de antes depagar, pedir um favor aos bilheteiros para darem uma olhada no ingresso. Se a coisa for boa, o vendedor não vai se importar. Não gostava de ópera e virei fã. Ópera para mim era o disco tocado na vitrola pelo avô da minha namorada (hoje dona Patroa). Depois que se vê uma boa montagem, com uma boa orquestra, você gosta. E se você gosta de uma comida razoável, o Café des Artistes é perto. Local tradicional e que agora se chama The Leopard at des Artistes. E para quem gosta de música, tem o Beacon Theater ali perto e se você der sorte, vai ter show bom. E se você for muito sortudo (eu quase dei esta sorte), você vê no Beacon o Donald Fagen com o Steely Dan ou mesmo, com o Dukes of September.
E ja ía me esquecendo. Visite a estação do metô do Lincoln Center. Os mosaicos nas paredes da mesma são maravilhosos.
Aproveitem as dicas e vamos ficar cobrando de nossas autoridades para organizarem e planejarem  as obras públicas.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

TELEFONIA E CPF



Vocês podem achar que fiquei maluco. O que tem haver telefone e CPF? Aparentemente, aqui em Terra Brasilis, estes dois seres estão intimamente ligados. É claro que conheço nossa legislação, mas nunca tinha pensado nas implicações destas exigências legais e, principalmente, em um mundo globalizado, onde as burocracias são cada vez mais simplificadas. Vamos ao inusitado e preocupante.
Uma grande amiga minha contou-me uma história muito interessante. Ela tem um amigo estrangeiro e que este amigo foi contratado para trabalhar na organização das Olimpíadas do Rio de Janeiro.  O amigo, cada vez mais, tem passado grandes temporadas no Rio e, como sua conta de telefone (que é do exterior) tem vindo cada vez mais alta, resolveu comprar um telefone aqui no Brasil. Ele, a medida em que 2016 se aproxima, tem ligado cada vez mais para brasileiros, ligações feitas daqui mesmo e do exterior.
O gringo resolveu ir a um shopping, pois os colegas brasileiros do Comitê Organizador disseram a ele que em um shopping ele teria lojas de todas as prestadoras de telefonia reunidas num só local. O cara foi a uma, a outra, e a outra e a conversa era sempre a mesma. Você tem que apresentar comprovante de renda, de residência e CPF. O cara argumentou que queria um “telefone descartável” ou seja, o nosso pré-pago. Disseram a ele que para ativar o bicho teria que ter CPF.
O cara retornou ao Comitê Organizador perguntando aos colegas o que ser CPF. Explicaram a ele que era o Tax Identification ou Tax Id – identificador de pagador de imposto. Como ele recebe pela empresa dele no exterior, ele não tem necessidade de ter CPF. Ou seja, impossível de adquirir um celular no Brasil. O jeitinho brasileiro está funcionando e alguém do Comitê Organizador está comprando um pré-pago para ele e ativando o mesmo. E ele vai fazendo as recargas.
Eu quando ouvi a história, veio a preocupação. Pensei nos milhares de prestadores de serviços de rádio, jornais, televisão, técnicos de tudo, que virão cobri Copa das Confederações (2013), copa do Mundo (2014) e Olimpíadas (2016).  Fora os turistas que virão assistir aos eventos.
Isto realmente é uma maluquice, pois me lembro que quando colocaram a exigência de CPF para ativar o pré-pago, era por conta dos golpes que se aplicavam (e aplicam), usando-se este tipo de celular. Parece-me aquela piada do tirar o sofá da sala. E mais ainda, você acha que o sujeito que te liga de dentro de um presídio usando um celular contrabandeado está usando o próprio CPF? É óbvio que não.
Em qualquer lugar do mundo não é assim e, vamos ao serviço de utilidade pública Blog da Infra. Você quando viajar para o exterior e para não morrer em uma conta na volta de mais de R$ 1.000,00 (as tarifas das nossas operadoras são um absurdo), leve um celular velho que você tenha em casa, não muito velho é claro, mas qualquer um de 2005 para cá. E chegando lá, compre um chip de alguma operadora e que já vem com uma carga de algumas ligações. Pronto. Você já sai falando de dentro da loja, e guarde seu celular para somente receber chamada. É muito mais barato.  Nos EUA, entre em qualquer loja, tipo Radio Schack e compre uma cartela com um celular descartável, pois ele vem com um aparelho básico e o chip. Pegue o número destes celulares e passe por email aos amigos e do teu trabalho, pois eles ligarão para ele e não para o teu número do Brasil. Você não pagará o roaming.
A conclusão que chego é (e de novo, que chato) que gostamos de criar umas jabuticabas em tudo que fazemos. Exigência de documento para telefone celular pré pago é mais uma jabuticaba que criamos, a exemplo de muitas outras. Triste mesmo.
E mais um serviço de utilidade pública aos gringos que aqui virão. Recomendar a todos eles darem uma passadinha no camelódromo da Rua Uruguaiana. Além de conhecerem uma legítima muvuca nacional, eles sairão de lá falando com qualquer celular e com um chip de operadora nacional. E como lá se vendem aqueles CDs com os cadastros de CPF de todo mundo, é capaz de ativarem o celular do gringo com o CPF do Lula, do Fernando Henrique ou da Dilma. O que seria uma boa e gostosa piada.