segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

COMO CHEGAR AO INTERNACIONAL (ou ao Universitário)


Minha boa e paciente professora de português no ginásio, Samira Mesquita (mãe do grande gente boa Evandro Mesquita), ensinou a alguns milhares de garotos e garotas que se vai a algum lugar, ou seja, o lugar que se vai é um substantivo.

Outro dia, dirigindo pela Linha Vermelha para a Universidade Federal, na Ilha do Fundão, deparei-me com uma placa indicativa de “Internacional” e vi que tinha um símbolo ao lado. Não deu para ver o que era pois ia a 80 km por hora.

Comentei com Dona Patroa que dá aulas na Federal e passa por ali sempre e ela comentou: “Ué? Você nunca reparou que as placas que indicam o caminho para o Galeão são de “internacional” e que o simbolozinho é de um avião? E que desde a Lagoa, na entrada do Rebouças, já é assim?”

Falei que realmente nunca tinha reparado, mas fiquei abismado, pois desde fedelho no colégio aprendi que se vai ao lugar, portanto um substantivo e que internacional é adjetivo.

Veio logo na cabeça aquele mente de filmetes de um grupo de humor que rola no Youtube, e que o bordão é: “Imagina na Copa!!!”.  Pois é, imaginem como vai ser na Copa do Mundo em 2014.

Em qualquer canto do mundo, a coisa mais confortável que se faz, principalmente nos EUA, é já no aeroporto alugar um carro e sair dirigindo. E, imaginem na Copa a quantidade de gringo querendo dirigir por aí com placas desta maneira.  Lembrei-me de duas coisas:

  •      existem algumas palavras no vocabulário mundial que são compreendidas quase por todo mundo e internacional é uma delas. Mole de entender em inglês, francês, italiano, espanhol, ou seja 2/3 do mundo entende.
  •    como nas línguas citadas internacional é adjetivo, o gringo vai ficar pensando: “internacional o quê?”
Fiz um esforço de lembrar das minhas últimas viagens e observei na última em fins de 2012, que em Nova Iorque, Chicago, Los Angeles, San Diego, Madri, Lisboa e Londres, ou tem a palavra aeroporto na língua de cada um, ou o nome do aeroporto (em Londres as placas têm Heathrow, Gatewick, Luton) e em Los Angeles como tem 3 aeroportos e 2 são internacionais, as placas são LAX Intl’ e John Wayne Intl’.  Nova Iorque tem o nome do Kennedy, La Guardia e Newark, e por aí vai.  E aeroporto é daquelas palavras inteligíveis em um número grande de línguas.

Dava para as nossas autoridades (aqui do Rio) começarem a atentar para isto?  E, desde que reparei neste absurdo indicativo, vi que a coisa é mais séria, pois o Hospital Universitário do Fundão, na placa está escrito Universitário e tem uma cruzinha ao lado. Olha lá o adjetivo de novo. Se vocês forem na Barra da Tijuca, tem uma placa que diz Leila Diniz e, de novo, a cruzinha ao lado. Se bem que Leila Diniz é substantivo (nome próprio), mas o coitado do turista não tem obrigação de saber que Leila Diniz é hospital maternidade; se for brasileiro lembrará (os mais velhos) da grande atriz e personalidade. Se for gringo, vai ser aquela de: Ahn?

A questão de placas indicativas no Rio de Janeiro, realmente, é coisa séria. Eu sempre me confundo naquela bifurcação da Linha Vermelha, para que vai seguir em direção à Baixada ou pegar a Ilha do Governador (e para o Galeão). A placa fica em cima da bifurcação, num local com umas 5 faixas de rolamento. Não entendo como já não houve ali um acidente de grandes proporções.

Não dava para copiar São Paulo e, pelo menos a uns 2 quilômetros antes da bendita bifurcação, virem colocando umas placas suspensas, indicando: Ilha / Galeão Faixas 1 e 2. Baixada / Petrópolis / São Paulo Faixas 3 e 4. Em São Paulo, ninguém se atrapalha para pegar a Dutra, a Ayrton Senna / Carvalho Pinto, a Regis, etc, pois as Marginais têm este tipo de placa.

Prefeito e Governador, vamos seguir o bom português? Placa é substantivo, e tem que ser de fácil compreensão pra qualquer um que more ou visite a cidade. Isto se quisermos atender bem a quem mora nela ou a quem a visita. E mais ainda, placa é igual a outdoor (salve Cristina Bacelar minha professora de marketing), tem que ser sintética e esclarecedora, pois é dirigida a quem está em velocidade mais alta de que uma caminhada.

PS: Conheço um internacional adjetivo que virou substantivo. Aliás, são 2 e clubes de futebol. O Inter de Porto Alegre e a Inter de Milão. (mas as placas do Rio não nos levam automaticamente ao Beira Rio ou a San Siro (oficialmente é Giuseppe Meazza?).

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

COM 15 ANOS DE ATRASO


Prometi que este blog tentaria ser o mais simples possível, evitando tecnicalidades e complicações maiores. Também, tentaria colocar posts a cada 15 dias, mas com determinados assuntos acontecendo, vejo que não dá para segurar.
Mais ainda, aproveito para esclarecer, que este blog é apolítico, apesar deste escriba ter suas posições políticas pessoais.  Antes de tudo, e o dístico do nosso blog explicita muito bem isto, o blog é contra o excesso de governo em qualquer coisa que não seja saúde, educação, segurança e transportes de massa. Socialismo moderno se faz através da universalização destas coisas, pois dá igualdade a todos.
Feitos os devidos esclarecimentos, vamos lá. Hoje (25.01.13), li no Globo (está na edição escrita e on line) que o Governo Federal está pensando em fazer uma cisão na Eletrobrás, separando-a em 3 empresas, voltadas à Geração, Transmissão e Distribuição.
Olhei e não acreditei. Ué? Mas não era isto que o governo de plantão, em 1998, queria fazer? E mais ainda, naquela época não iriam ser privatizadas a distribuição e a geração, ficando com o sistema Eletrobras a transmissão?
Na época, a oposição visceral do partido de oposição barrou e hoje, no poder, vão fazer praticamente a mesma coisa. A reportagem não fala ainda em privatização, mas para que fazer uma fazer cisão se não existir uma justificativa puramente financeira e estratégica?
Escrevo isto para apontar as incongruências existentes e para mostrar que quando se ideologiza assuntos eminentemente técnicos, as confusões, mais cedo ou mais tarde, aparecem.
Com a última mudança nas regras de tarifas e concessões do setor elétrico, caíram os valores das empresas do setor, estatais inclusive, e todo o setor perdeu capacidade de investimento, em um momento que a eletricidade se tornou um dos calcanhares de Aquiles do desenvolvimento. Desta forma, retirar governo de atividades de produção de energia, é atitude, no mínimo, sensata.
A atividade do governo no setor elétrico, e em outros de serviços, tem que ser eminentemente regulatória, com o fortalecimento técnico (e não político) das agências reguladoras (no caso da eletricidade, a ANEEL).
Vamos aguardar mais notícias e ver se este movimento não vai organizar mais um monstrengo estatal, com confusão societária.
Mas, se a coisa andar na direção que esperamos, vemos que o País perdeu 15 anos, num setor que, desde fins dos anos 80, vem enfrentando graves problemas.
Só como curiosidade, e um pouco de conhecimento técnico não machuca ninguém. Um parque eólico de 150 Mw leva cerca de 2 anos e meio para ser implantado. Uma térmica à gás com mesma capacidade leva cerca de 18 meses para ser construída. Uma hidrelétrica com mesma capacidade e à fio d’água (sem grandes reservatórios e barragens) leva cerca de 3 anos para ser construída.  Ou seja, o tempo que se perde neste setor é assunto importante.

sábado, 19 de janeiro de 2013

ESTRANGEIRO NO SEU PRÓPRIO PAÍS (ou a "jabuticaba elétrica")






O brasileiro talvez seja o único povo do mundo que tem que usar adaptador de tomada em seu próprio país. Quem já viajou para o exterior, já se deparou com o problema de conectar um computador ou o carregador de celular quando chega ao seu destino, pois a tomada padrão até então usada no Brasil não serve na tomada do outro país. Se estivéssemos nos Estados Unidos, até que dava para se ajeitar com alguns tipos de equipamentos. Mas na Europa, e principalmente, no Reino Unido, não tem jeito.

A solução era passar no free-shop e comprar um kit de adaptador de tomadas multiuso, para diversos países.  Todo viajante frequente possui um kit destes em sua mala de viagem, para não perder tempo e dinheiro.

Com a adoção do novo padrão de tomadas brasileiro, ficamos reféns do uso de adaptadores em nossa própria terra. Ou seja, mais um exemplo do que falamos aqui no blog: O Estado x Cidadão (pagador de impostos). E, como o Brasil gosta de ser diferente, criamos nossa “jabuticaba elétrica”. Jabuticaba só tem no Brasil, idem nosso novo padrão de tomada.

Lembrei-me de minha época de faculdade (início dos anos 70), e de um livro que fez muito sucesso nesta época. Chamava-se A Ditadura dos Cartéis, escrito por Kurt Mirow. O autor era um empresário brasileiro que atuava na área de equipamentos pesados para o setor elétrico e que havia sucumbido na sua luta contra os gigantes que atuavam (e atuam) neste setor.   Como gosto de história e acho que o seu estudo ajuda a compreender o que ocorre no futuro, lembro-me de como Mirow descrevia a formações dos grandes grupos internacionais do setor de equipamentos elétricos, isto na virada do século XIX para o XX. Ele, no início do livro, mostrou como os cartéis elétricos se formaram, impulsionados por inventores e empresários como Edison e George Westinghouse (EUA), Werner Siemens (Alemanha), Elihu Thopson (inglês, radicado nos EUA, e fundador da Thomson - Alshtom da França) e Joseph Swan (Inglaterra). Cada país desenvolvido, para construir a sua indústria de equipamentos elétricos, apoiava suas indústrias nacionais e adotaram um conjunto de medidas, abrangendo padrões de tomada, voltagem e ciclagem. Fizeram isto, pois entendiam que, na época, ter uma indústria de equipamentos elétricos nacional era assunto estratégico. E também ajudavam cada cartel a blindar o seu mercado.

Aí, no nosso Brasil, 110 anos depois, resolvemos mudar o padrão de tomada, uma coisa totalmente fora de época e que só beneficia a indústria de equipamentos elétricos.

Uma das coisas mais curiosas foi um dos motivos usados como desculpa para tal medida, e a principal foi que o padrão de tomada anterior era inseguro, poderia dar choques nas pessoas. Engraçado, pois um monte de amigo meu quando eu comentava sobre o absurdo disto, e sobre o custo financeiro e social do mesmo – comentarei a seguir – as pessoas diziam: “Ah, mas dava choque”.  Alguém conhece uma pessoa que tenha morrido por conta do antigo padrão de tomada?

E mais ainda, por que não se adotou o padrão norte americano, pois todas as tomadas fabricadas no Brasil já eram de duplo uso (norte americano e brasileiro)? E mais paranoico por segurança que norte americano, acho que não existe mais ninguém.

De novo, a única conclusão que resta é: beneficiar a indústria eletroeletrônica.

O que sobra nisto tudo?  Algumas coisas interessantes, se não vejamos:

1 – A população brasileira, em sua maioria, ainda é pobre, e brasileiro independentemente de classe social ou intelectual gosta de uma gambiarra.
Todos irão trocar as tomadas de suas casas?  É óbvio que não e as gambiarras e adaptadores se proliferarão.

2 – Uma coisa técnica e chata. Não adianta dizer que o antigo padrão não era trifásico. Era. Sofri na pele quando construí minha casa (toda trifásica) e os peões da obra achavam que eu era no mínimo doido, pois gastei mais fiação, “Doutor, pra que isto? Basta ligar o neutro no positivo”. Olha a gambiarra aí. Mesmo assim, volta e meia descubro uma tomada deste jeito, quando estou descalço e a mão toma choque quando encosto em alguma superfície metálica do aparelho ligado. Vou lá e corrijo.

3 – Quem sofre com estas medidas é o pobre – mais uma vez o Estado contra o cidadão. Não vai trocar de tomada, vai fazer gambiarra e se ferrar. Em locais mais pobres e favelas, o número de incêndios por curtos circuito vai aumentar. Sugestão para dissertação de mestrado aos jovens, e quem se interessar, comece a coletar dados de estatísticas junto ao Corpo de Bombeiros de sua cidade.

Por fim, duas coisas, uma engraçada e outra séria. A engraçada é que durante a Rio Mais 20, uns amigos meus que trabalham em hotéis me disseram que nunca ouviram tantos palavrões em línguas estrangeiras de hóspedes, que entrando nos quartos e querendo recarregar celulares e notebooks, se defrontavam com a “jabuticaba elétrica”. Achavam que o exotismo era do hotel, e tome-lhe impropério. Os concierges sofreram atrás de milhares de adaptadores e tudo em 2 ou 3 dias. Quem adorou foram os camelôs, únicos fornecedores de adaptadores e dos padrões antigos para filtros de linha, por exemplo.

O lado sério da coisa é um fato que sempre bateremos neste blog – As medidas adotadas por governos, normalmente não levam em conta o custo para o cidadão. Também, quase sempre não há uma medição de custo x benefício para a sociedade.

Desta forma, o custo desta “jabuticaba elétrica”  é enorme para a sociedade, com benefícios reduzidíssimos, só beneficiando a indústria, sobrecarregando, mais uma vez a população brasileira, que é, em sua maioria, constituída de  pobres.

E para comemorar esta “jabuticaba”, temos uma tomada das antigas dando O Grito (Skrik) à moda de Edvard Munch.

PS - Passei Natal e Ano Novo em Londres e dei uma fugida de 3 dias em Paris. Onde andei, inclusive em free shops, ainda não existem kits de viagem com adaptadores para as nossas tomadas. Os concierges de nossos hotéis ainda vão aprender muitos palavrões em diversas línguas.

domingo, 6 de janeiro de 2013

O ESTADO CONTRA O CIDADÃO




Ao pensar em qual seria o primeiro artigo para este blog que pretende tratar da infra estrutura diária que nos afeta, nada mais óbvio do que abordar o assunto de que, usualmente, os governos – quaisquer que sejam eles: federal, estaduais ou municipais – sempre se colocam contra quem os sustenta. Existe um ditado norte americano que diz: “A única certeza na vida são a morte e os impostos”.

E este ditado resume estas verdades, pois iremos morrer algum dia e, ao longo da vida, do momento em que nascemos ao momento em que morremos, nós iremos pagar impostos todos os dias de nossas vidas.

Já no hospital, mesmo que seja um público, ao sairmos dele nossos pais já levam para casa um receituário e já compram atadura, gaze, fralda descartável, uma pomada contra assadura ... e tudo isto tem imposto embutido. Ao morrermos, de cara, alguém compra uma urna funerária, o popular caixão do defunto e, segundo recentes reportagens publicadas em jornais diários, a urna contém embutida cerca de 36% de impostos. Ou seja, comprou um caixão de defunto por R$ 1.000,00, em torno de R$ 360,00 vão para o governo.

Andamos pelo país todo e vemos sempre aquelas propagandas governamentais que, invariavelmente, contem a frase: “fazendo isto para você”. Nesta época de governos orientados pelo marketing rasteiro, isto é a maior enganação para o cidadão pagador de impostos.

Os governos somente existem para prover as infra estruturas básicas aos cidadãos e estes financiam estas necessidades básicas pagando impostos. E quais são estas necessidades básicas? São as funções de qualquer governo democrático – educação, saúde, segurança, transportes, administração de justiça e regulação. E o resto, bem, já deu para perceber que quem escreve isto é partidário do estado básico em suas funções históricas.

Aqui no Brasil, se olharmos bem, o estado brasileiro já terceirizou a maior parte das suas funções básicas e atacou outras áreas, onde não deveria estar atuando.

Resumo da história, quando ataca as áreas onde deveria atuar dia e noite, o faz na base do “estou dando isto a você” ou “cuidando de você”. Na minha opinião, ninguém tem que ser cuidado, ou tratado como se fosse um irresponsável que necessita de um estado-pai provedor e cuidador.

Desta forma, o estado brasileiro, atualmente, não provê o básico aos seus cidadãos na sua luta diária, e quase sempre está na posição de confronto com quem o sustenta.

Enquanto este blog existir, será destes assuntos diários da infra estrutura que nos afeta, que iremos tratar, tentando sempre descomplicar, mostrar coisas que não reparamos na correria diária e, tentando sempre colocar um pouco de bom humor ou galhofa, pois se não fizermos uma crítica com humor, ficaremos doidos, tal a quantidade de maluquices que, ao longo dos últimos tempos, estamos observando e coletando para iniciar este blog.