quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

UM CONVITE AO USO DOS NEURÔNIOS

Como vocês sabem, eu gosto de história e tive a sorte (ou ajuda divina) de ter tido bons mestres nesta área. Sou muito grato a eles (Ilmar, Ella, Manoel Mauricio e Francisco Jacques).
A história, às vezes, nos ajuda a compreender determinados fatos presentes. Ontem, em função da tragédia da Linha Amarela, lembrei de fatos que presenciei anos atrás (longos anos) e tirei algumas conclusões, que guardarei para mim. Mas, contarei a história e acredito que os leitores deste blog possuem uns bons neurônios e chegarão na mesma conclusão que cheguei.
Vamos lá:
Em meados de 1955, eu era um fedelho de 4 para 5 anos e meu pai comprou um apartamento na Rua Assunção, em Botafogo. Sou nascido e criado neste bairro, além de bom torcedor do clube de mesmo nome (pra quem não sabe). Grande animação na família, primeiro imóvel próprio, mudança à vista. Mas havia um detalhe com o qual ninguém contava, e principalmente minha mãe.
A Rua Assunção, nesta época, era uma rua bucólica, na maior parte de casas, poucos prédios de apartamentos, alguns terrenos baldios, 2 ou 3 botequins de esquina. Tinha também, quase ao lado do meu prédio uma rua de terra batida, repleta de garagens de ônibus, oficinas mecânicas e no fim dela a entrada de uma ... pedreira!!!
Era a única pedreira e concreteira na Zona Sul do Rio. Era um inferno, pois a pedreira usualmente implodia rocha 2 vezes por dia. Três sirenes, e ao final da última, buuum!!!! E tremia tudo. Minha mãe ficava exasperada, pois a camada de poeira nos móveis era um inferno, além dos tremores.
Meu pai também se irritava por outros motivos. Foi síndico de nosso prédio por várias vezes e, vez por outra o Segredo errava na mão e a explosão era fenomenal, voando brita até na Praia de Botafogo. E meu pai ia na administração da pedreira cobrar o custo das telhas quebradas. Ele e mais um montão de gente. Em tempo, Segredo era o cara que colocava a dinamite tinha este apelido pois era meio surdo por conta dos deslocamentos de ar e falava aos berros; também tinha que berrar lá do alto do morro, pro pessoal lá em baixo. E o Segredo era movido à cachaça, bebia além da conta e dinamite além da conta.
Como vocês podem ver, era sensacional, pra nós crianças e pré adolescentes. Mas para os adultos era infernal, pois além das explosões, havia uma poeirada danada, cobrindo móveis, carros, vidros, roupas nos varais, etc.
Em 1960, o Rio virou Estado da Guanabara, com um governador que resolveu tirar alguns problemas crônicos da cidade, transformando-a em um tremendo canteiro de obras. As principais foram os túneis (Santa Bárbara e Rebouças), o sistema de águas do Guandu, para acabar com a crônica falta de água na cidade e, também, fez uma beleza, que foi o Aterro do Flamengo.
Vocês, leitores mais jovens (ou os mais velhos desmemoriados). Devem imaginar o que foi. A cidade virou um canteiro de obras, muito mais do que hoje em dia. E os túneis e o Aterro eram na Zona Sul, requerendo montanhas de rocha (o enrocamento do Aterro) e brita para concreto. Lembro que na pedreira, além da dita cuja, havia uma concreteira. A necessidade de cumprir prazos e diminuir custos era grande e vocês devem imaginar que a pedreira da Rua Assunção foi vital para as citadas obras. E apesar das reclamações dos moradores de Botafogo, a mesma continuou impávida.
Em finais de 64 ou início de 65, retornando do ginasial, por volta de meio dia, chego na Rua Assunção e a mesma parecia um circo, com jornalistas, rádios, TVs, políticos e a população aos gritos: Lacerda, Lacerda!!!! Ele tinha interditado a pedreira atendendo a pedidos da vizinhança. Era o herói do dia. Só que os túneis já estavam funcionando (o Rebouças com uma galeria), o Aterro ia ser inaugurado e a pedreira, portanto, era somente uma pedreira, não é?
Interessante, não?
Pulemos no tempo e deixo os seguintes indicadores para uma analogia histórica com o acidente da caçamba na Linha Amarela.
  • o corredor de BRT chamado de Transcarioca corre paralelamente à Linha Amarela;
  • segundo a imprensa, a pedreira (abandonada) ao lado do pedágio da Linha Amarela está sendo usada como depósito de entulho;
  • a Transcarioca, segundo li, tem que ser inaugurada até abril, para a Copa e está atrasada;
  • os moradores no entorno da Linha Amarela dizem que o tráfego de caçambas, apesar das proibições de horário, é ao longo das 24 horas.

Coloquem seus neurônios para funcionar.

E para quem quiser, e só pessoalmente, tenho mais uma história deliciosa sobre a pedreira.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A IRRESPONSÁVEL OPÇÃO PELOS ÔNIBUS

Ano passado, quem for pesquisar os arquivos do blog, escrevi uma série de três artigos falando sobre a opção que as sucessivas administrações da Cidade do Rio de Janeiro fizeram em prol de um transporte de massa sobre 4 rodas. A crítica que faço é pela irresponsabilidade de governadores e prefeitos que, desde os anos 80, passaram por esta cidade.
Nestes artigos falava sobre os fluxos de trânsito, nas sucessivas tentativas de se fazer intervenções na “geografia” da cidade para o deslocamento de seu Centro, e que a opção feita por ônibus como principal transporte de massa era uma irresponsabilidade. Que o transporte de massa sobre trilhos era a saída mais correta, e que os fluxos de trânsito tinham que respeitar a nossa complicada geografia, cheia de morros e circundada pelo mar.
Esta situação chegou esta semana a um clímax. Com o fechamento da Perimetral e com a inversão de mão de várias ruas, sem um reordenamento de trajeto de linhas de ônibus, está levando a cidade a um caos. O caos já se anunciava, pois na semana passada, foi interrompido o tráfego dos trens suburbanos por mais de 12 horas
E, hoje, 28.01.2014, um acidente na Linha Amarela fecha a via, e autoridades, rádios e demais meios de comunicação pedem às pessoas para restringir sua circulação. Aliás, esta restrição de circulação vai ser a tônica este ano na Cidade do Rio de Janeiro.
Alguns comentários:
- Será que nossas autoridades continuarão a insistir neste modelo? E não investir em transporte de massa por metrô e bondes (VLT, pois a turma gosta de siglas)?
- Não adianta dizer que o transporte sobre trilhos é caro, pois cidades como Londres, Paris e Nova Iorque continuam a investir em metrôs, RER (trem subterrâneo de Paris), Crossrail (trem subterrâneo de Londres), DLR (metrô leve de Londres). E são cidades com muito mais problemas em escavações do que o Rio.
- O Rio tem uma cadeia de montanhas em seu meio, que poderia abrigar uma série de linhas de metrô, principalmente a ligação Rua Uruguai – Gávea, que retiraria uma série de linhas de ônibus que circundam o maciço da Tijuca; e o exemplo que lembro é o sistema de túneis por baixo de Mônaco, verdadeiras freeways em baixo da cidade.
- É fácil para uma autoridade pedir para que todos fiquem em casa, decretar feriado em dias de jogos na Copa do Mundo ou mesmo em Olimpíadas. E fica a pergunta: Quem paga a conta das empresas que terão dias parados, ou mesmo empregados com baixa eficiência por conta de 4 ou mais horas por dia dentro de ônibus quentes, ineficientes, sujos, mal conservados?
Nesta história toda, fora os prejuízos de todos, é que não vejo nenhuma entidade de classe, tipo Associação Comercial ou FIRJAN, reclamar da situação. O Rio perde eficiência, perde dinheiro mesmo com esta opção irresponsável de transporte de massa.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

A RECICLAGEM DE LIXO NO RIO (e uma contradição)

Pretendia iniciar o ano com outros temas, mas o que presenciei hoje merece uma reflexão e uma verificação. Coloco o assunto no blog, porque sei que de uma maneira ou outra virão respostas através dos nossos leitores.
A coleta de recicláveis na cidade do Rio de Janeiro, segundo vários sites que pesquisei, beira os 5%, e a empresa municipal de lixo, a COMLURB, é responsável por menos de 1%. Os quase 4% restantes são de responsabilidade de catadores de lixo reciclável.
Isto é um percentual muito baixo e países europeus reciclam mais de 60% de seu lixo, o Japão quase 80% e os EUA cerca de 50% do lixo gerado pela população.
Do meu lado, a prática de reciclar o meu lixo doméstico vem de 1993, onde entregava o reciclado que eu gerava em uma cooperativa de catadores que funcionava associada à COMLURB em baixo da ponte da Joatinga, na entrada da Barra da Tijuca. Com o início da coleta seletiva no meu bairro, passei a depositá-lo na porta da minha casa uma vez por semana, no dia em que o caminhão da COMLURB passa no local.
Esclareço aos meus leitores que iniciar reciclagem de lixo na minha casa deu-me um grande trabalho. Foi duro educar familiares e prestadores de serviço domésticos ao hábito de separar lixo orgânico do reciclável. No início era taxado de louco. Deu trabalho, mas hoje todos fazem sem perceber. E, em visitas periódicas ao exterior, e onde fico em residências de amigos ou familiares, vejo que a coleta de recicláveis é realidade, principalmente na Europa, com caçambas de coleta próprias espalhadas por todas as cidades.
Recém chegado de mais uma estadia europeia e na 6a feira (10.01.2014), coloco meu reciclado na porta de casa, devidamente ensacados, exceto uns blocos de isopor, que acondicionavam um eletrodoméstico que comprei. Não cabiam em nenhum saco de lixo, pois tinham acondicionado um fogão. Para minha surpresa, o caminhão recolheu os sacos e deixou o isopor. Resposta do pessoal da coleta: “Isto não se recicla”. Resolvi não discutir com os lixeiros, pois estão cumprindo ordens de alguém da COMLURB.
Mas, ficam as indagações e indignações, pois:
- isopor (poliestireno expandido ou EPS) se recicla em 100%;
- é um derivado de petróleo e quase 97% dele são gases; tem alto poder calorífico, podendo ser queimado para gerar energia;
- como pouca gente sabe disto, ele acaba indo para o lixo comum, que é colocado em vazadouros ou em aterros sanitários.
O engraçado disto tudo é que a COMLURB, empresa de coleta de lixo da Prefeitura do Rio, informa a seus funcionários que o isopor não se recicla, e o que faz a maioria da população? Coloca o mesmo no lixo comum, que acaba indo para um aterro sanitário, poluindo mais ainda o meio ambiente, E perde-se uma fonte de receita para a empresa, pois qualquer material reciclado é vendido a empresas que reprocessam os mesmos. Uma grande contradição, pois a empresa é que tem que orientar a população sobre a boa prática de coleta seletiva.
E como pagamos impostos, e gostamos que o nosso imposto seja aplicado corretamente, fica aqui a cobrança para que a Comlurb passe a coletar como reciclável o isopor.
Em tempo: como sou teimoso, quebrei os blocos de isopor em pedaços menores, ensaquei-os e na última 6a feira (17.01.14) a coleta seletiva da Comlurb levou o isopor. O que vão fazer com os pedaços realmente não sei mas é triste ter que usar estes artifícios.

E uma outra lembrança me ocorreu. A coisa pode ser cultural, pois nos idos dos anos 90, levando uns pedaços de isopor para a cooperativa de catadores da Ponte da Joatinga, os catadores me disseram que isopor não se reciclava e por mais que eu dissesse que sim eles afirmavam que não. Pode ser cultural mesmo, mas, de novo, o catador pode ser semi analfabeto, mas uma empresa de lixo...

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

FELIZ 2014 E FIM DA FOLGA

Acabou a folga. Depois de umas férias merecidas, estou de volta. Prometo a meus leitores que semanalmente vocês terão novas crônicas e, se possível, mais de uma por semana.

A todos um Feliz 2014 e com infraestrutura mais amigável, honesta e fazendo valer os nossos suados impostos.