O Papa chegou ao Rio e foi
brindado com um típico dia do trabalhador carioca, ou seja, com um monumental
engarrafamento de ... ônibus.
Todos, que acompanharam pela
TV, viram a tremenda gafe de organização e de falta de segurança. Vou deixar para comentar isto e um
outro fato daqui a pouco.
Mas como sempre diz o
economista Sérgio Besserman, um observador muito atento a diversas coisas, o
brasileiro gosta de focar no “hardware” e sempre se esquece do “software”.
Quando o Besserman fala de hardware e software não está se referindo à lógica
dos computadores. Eu já escrevi aqui no blog sobre a mania brasileira de olhar
os ativos tangíveis, aqueles que todos veem, e se esquecem de atentar para quem
vai operar o ativo.
A nossa Prefeitura construiu
há cerca de ano e meio o famoso Centro de Controle de Operações, que fica numa
rua ali atrás da sede da Prefeitura, o famoso Piranhão. Se vocês observarem
bem, repararão que nas principais vias da cidade e de seus cruzamentos existem
uns postes de aço galvanizado bem altos com câmeras lá no topo. Estas câmeras
se ligam ao tal Centro de Controle de Operações. Então, o hardware existe, a
tecnologia é de ponta, segundo me contaram alguns amigos que participaram da
montagem da coisa.
Mas, e o software? Aquele
carinha que vai estar lá na rua, e que teoricamente deveria estar recebendo
instruções da coisa? Lembrei-me de uma professora de faculdade, funcionária
pública de carreira e aluna dileta de Hélio Beltrão. Ela ajudou o Ministro na
restruturação dos Correios, na sua automação, na criação do CEP, etc. Esta
professora falava que o maior problema em qualquer correio do mundo era “a
milha final”, pois por mais que os correios se automatizassem, a milha final
sempre dependeria do homem. Se este falhasse, não adiantaria nada o Correio ter
se modernizado e a imagem de desorganização do mesmo continuaria. Agradeço a
esta professora os primeiros conceitos sobre hardware e software, no seu senso
mais amplo.
Ter o equipamento, mas não
treinar que vai executar a solução do problema no local do mesmo, é jogar
dinheiro fora. Mas ainda, sem ter um comando e planejamento centralizados, de
nada adianta ter equipamentos.
Fora o que se viu na TV,
relato um fato interessante pelo qual passei e presenciei. Nos meus
deslocamentos casa (Barra) ao meu escritório (Centro), uso um caminho
heterodoxo. Subo a Estrada das Furnas, pego a Estrada do Corcovado (em direção
às Paineiras) e desço por Santa Tereza. Faço o percurso em menos de uma hora,
quando outras pessoas, por carros, levam mais de hora e meia e às vezes, mais
de duas horas. Hoje, pela manhã, fiz o caminho de sempre, e a única coisa
diferente foi o maior número de turistas, todos com camisas da Jornada Mundial
da Juventude.
Na volta, 17:30, subi Santa
Teresa, passei por uma viatura da PM no Silvestre e subi a Estrada do
Corcovado. Em frente ao Hotel das Paineiras, a cancela da estrada estava
fechada. Havia uma viatura da PM e perguntei ao soldado o que havia. Ele me
informa que, devido ao grande número de peregrinos que transitava pela estrada,
o diretor do Parque Nacional da Tijuca mandou fechar o mesmo por volta de meio
dia. Perguntei de novo, se era por segurança, já que o Papa iria se alojar na
casa do Arcebispo, no Sumaré. O guarda falou que não. Eu perguntei se ele não
poderia avisar aos colegas que estavam na entrada do parque, no Silvestre, para
que fechassem o acesso mais abaixo, evitando que mais pessoas fizessem o que eu
fiz. Resposta dele: “O pessoal lá de baixo é da UPP”. Eu resolvi parar de
perguntar, porque isto não faz sentido.
Desci e no entroncamento com o
Mirante Dona Marta tinha outra viatura e uma soldada da PM, ante o que eu
contei, desceu até o Silvestre e fechou o acesso. Parabéns a esta soldada. Faço um parênteses – sou contra o total
linchamento que fazem com os soldados da PM. Eles são o software, mal pagos e
mal treinados que temos. É burrice execrá-los. Temos que cobrar investimentos
no treinamento e no salário deles. Mas, todos os PMs ali
E para terminar:
- Onde está o comando
centralizado da coisa? O diretor do parque, que é federal, decide fechar o
mesmo por acúmulo de gente e pronto. Fica por isto? Quem manda nele? Ou ele
decide tudo sozinho?
- Se fecharam por razões de
segurança, poderiam ter fechado 4,5 km acima, na confluência das Estradas das
Paineiras, Corcovado e Sumaré. Sei a distância porque em 1984, participei da
marcação de “nosso campo de treinos” de verão, nos preparativos da clínica da
maratona do Rio, patrocinadas pelo JB.
- O engarrafamento do Papa foi
ridículo. Vi quando a Rio Branco foi fechada, às 15:00, porque estava indo
pegar uns documentos no Hotel Windsor Guanabara. Já estava um caos, mas
imaginei que iriam desviar os ônibus da pista lateral, para a pista central da
Presidente Vargas, na altura dos prédio dos Correios. Isto deveria ter sido
feito também às 15:00. Não fizeram.
- Quem planejou isto não mora
no Rio, ou anda de helicóptero e não sofre com os engarrafamentos.
- E por fim – repararam que os
seguranças do Papa não tinham rádios? Nem os guardas de trânsito da CET Rio,
nem os guardas Municipais, nem os PMs que estavam ao longo das ruas? Como fazer
segurança, ou executar um plano de segurança sem que “a milha final” esteja
equipada ou treinada para tal?
A improvisação foi grande, um diretor
de parque fecha uma via importante (muita gente está fazendo o caminho que eu
faço), e espero que o que ocorreu hoje sirva de lição para a Copa do Mundo e
para as Olimpíadas.
Com relação ao Parque Nacional
da Tijuca. Se é verdade o que os PMs me falaram, o INEA tem que dar um puxão de
orelhas nele. O local é turístico e nos eventos que virão, o local vai ser
muito visitado. E aí, encheu e fecha?
Vamos ao bordão já famoso: Imagina na Copa!
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