quinta-feira, 18 de julho de 2013

O TEMPORA O MORES (Reflexões sobre os últimos dias)


(atualizado em 19.7.213 - 11:30)



É gostoso começar um post com uma citação de Cícero, nas Catilinárias. A frase em latim tem tudo a ver com nosso momento atual – “Que tempos, que hábitos!”
Nos últimos dias li ou ouvi coisas que me fizeram refletir sobre os momentos que vivemos no País.
Vamos lá:
11.07-2013 – Ouvindo na CBN notícia sobre diversas reclamações no sistema de recarga do Rio Card. O  Rio Card, diferentemente do Vale Transporte, é o cartão de transporte público que qualquer um pode comprar e ir recarregando para usar em ônibus, metrô, barcas e trens suburbanos aqui no Rio de Janeiro. Gerenciado pela Fetranspor, associação dos empresários de ônibus. Diversos ouvintes da CBN reclamam que não conseguem recarregar os seus cartões nos postos de recarga, pois cada posto tem uma cota máxima de recarga por dia e estas se esgotam logo nas primeiras horas da manhã, forçando o usuário a pagar em dinheiro a passagem. Ouvida a empresa que administra o sistema, a mesma respondeu à CBN que a cota por posto era em função da demanda de cada posto. Os repórteres da CBN meio que riram da resposta. Minha conclusão é que, com Vale Transporte e Rio Card tudo ficou rastreável, e mais ainda com a entrada de outros modais que não são controlados por empresas de ônibus. Tudo agora é auditável, até porque tem que ser rateado entre os modais. Forçando o usuário a pagar em dindim, tem-se ainda um pequeno “por fora”. Conclui-se que está havendo uma certa síndrome de abstinência.
17.07.2013 – Li no Globo um excelente artigo do jornalista Gilberto Scofield sobre a “capitania hereditária” que estão querendo criar com as autonomias dos táxis. Táxis é transporte público, portanto objeto de concessão, a exemplo de qualquer modal de transporte público. O taxista morre ou para de trabalhar, devolve a autonomia ao município. Esta mania nacional de criar ativos do nada é uma coisa realmente insana e nos táxis são as autonomias, os pontos cativos (a rua é pública e não do dono do ponto, etc. Uma outra coisa engraçada que o Scofield observou é que a Prefeitura do Rio autorizou aos táxis a usarem a bandeira 2, o tempo todo, durante a Jornada Mundial da Juventude. Ele não concluiu, mas eu concluo que isto demonstra a incapacidade da Prefeitura controlar a bandalha e já autorizou que os táxis cobrem mais para diminuir o achaque. Tristes tempos.
17.07.2013 – Ouvindo a CBN nas minhas 2 horas de idas e vindas para o escritório, ouvi uma “saia justa” que o nosso Secretário de Meio Ambiente levou em pleno ar. Com estes tempos de internet, as coisas ficaram muito rápidas, rastreáveis, identificáveis. Políticos, repórteres, autoridades, todos terão que se reciclar e se readaptarem.
18.08.2013 – Li no Globo que, apesar da FAB ter colocado uma “lista de embarque” em seu site com o nome dos políticos que usam os seus jatos executivos, a farra continua. Ou seja, nossas “Marias Antonietas” estão nos mandando comer bolos. Aliás, tem uma outra frase célebre, de Taylerand sobre os Bourbons: “Não aprenderam, não esqueceram nada”. Aplica-se muito bem neste caso.
18.08.2013 – Ouvindo uma entrevista coletiva das autoridades de segurança do Estado, sobre os tumultos no Leblon e Ipanema, fiquei perplexo com a quase confissão de que as mesmas estão incapazes de entender e enfrentar, na forma devida, os protestos e tumultos que estão acontecendo. Acho que falta um pouco de humildade em ir se aconselhar em quem tem experiência neste tipo de tumulto. Lembro agora que Los Angeles, Washington e Paris sofrem, volta e meia, com este tipo de coisa. Por que não se aconselhar com quem entende?
18.08.2013 - Por volta das 14:30, estou andando na Av. Rio Branco voltando do almoço e na esquina com a Rua 7 de Setembro vem em minha direção um grupo de uns 30 jovens, todos com camisetas da Jornada Mundial da Juventude. Entoavam um hino religioso, acompanhando-se de 2 tambores e uns violões. O jornaleiro da banca de jornal da esquina, assustado, começa a fechar rapidamente a banca de jornal. E os passantes: "Calma, calma. É só o pessoal do Papa. Que tempos! Que hábitos!
Falei muito de jornal e CBN. Este blog nasceu de observações minhas, nos meus deslocamentos diários e nas viagens de férias e a trabalho que faço. E sou uma pessoa observadora. Mas, ouço CBN-Rio todos os dias e reparei que desde 2010, o nível de reclamações da população tem aumentado, e que as pessoas ficaram mais críticas e cobrando mais. E muita gente passou a perceber que paga imposto e não leva nada em troca, ou leva muito pouco.
E lembrei nestes dias o que o novo âncora do CBN-Rio, o jornalista Otávio Guedes, falou logo que assumiu a posição, no início deste ano. Ele falou que, dada a insatisfação da população com os transportes de massa no Rio, a decisão da próxima eleição para governador do estado, em 2014, poderia se dar pelo caminho de quem melhor prometesse equacionar o problema. Quatro meses depois começaram os protestos e o vetor foi o aumento na passagem dos ônibus. Eu imagino o número de reclamações que rádios, TVs e jornais recebem – nos só lemos ou ouvimos a menor parte. A percepção do jornalista foi profética.

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