(atualizado em 19.7.213 - 11:30)
É gostoso começar um post
com uma citação de Cícero, nas Catilinárias. A frase em latim tem tudo a ver
com nosso momento atual – “Que tempos, que hábitos!”
Nos últimos dias li ou ouvi
coisas que me fizeram refletir sobre os momentos que vivemos no País.
Vamos lá:
11.07-2013 – Ouvindo na CBN
notícia sobre diversas reclamações no sistema de recarga do Rio Card. O
Rio Card, diferentemente do Vale Transporte, é o cartão de transporte público
que qualquer um pode comprar e ir recarregando para usar em ônibus, metrô,
barcas e trens suburbanos aqui no Rio de Janeiro. Gerenciado pela Fetranspor,
associação dos empresários de ônibus. Diversos ouvintes da CBN reclamam que não
conseguem recarregar os seus cartões nos postos de recarga, pois cada posto tem
uma cota máxima de recarga por dia e estas se esgotam logo nas primeiras horas
da manhã, forçando o usuário a pagar em dinheiro a passagem. Ouvida a empresa
que administra o sistema, a mesma respondeu à CBN que a cota por posto era em
função da demanda de cada posto. Os repórteres da CBN meio que riram da
resposta. Minha conclusão é que, com Vale Transporte e Rio Card tudo ficou
rastreável, e mais ainda com a entrada de outros modais que não são controlados
por empresas de ônibus. Tudo agora é auditável, até porque tem que ser rateado
entre os modais. Forçando o usuário a pagar em dindim, tem-se ainda um pequeno
“por fora”. Conclui-se que está havendo uma certa síndrome de abstinência.
17.07.2013 – Li no Globo um
excelente artigo do jornalista Gilberto Scofield sobre a “capitania
hereditária” que estão querendo criar com as autonomias dos táxis. Táxis é
transporte público, portanto objeto de concessão, a exemplo de qualquer modal
de transporte público. O taxista morre ou para de trabalhar, devolve a
autonomia ao município. Esta mania nacional de criar ativos do nada é uma coisa
realmente insana e nos táxis são as autonomias, os pontos cativos (a rua é
pública e não do dono do ponto, etc. Uma outra coisa engraçada que o Scofield
observou é que a Prefeitura do Rio autorizou aos táxis a usarem a bandeira 2, o
tempo todo, durante a Jornada Mundial da Juventude. Ele não concluiu, mas eu
concluo que isto demonstra a incapacidade da Prefeitura controlar a bandalha e
já autorizou que os táxis cobrem mais para diminuir o achaque. Tristes tempos.
17.07.2013 – Ouvindo a CBN
nas minhas 2 horas de idas e vindas para o escritório, ouvi uma “saia justa”
que o nosso Secretário de Meio Ambiente levou em pleno ar. Com estes tempos de
internet, as coisas ficaram muito rápidas, rastreáveis, identificáveis.
Políticos, repórteres, autoridades, todos terão que se reciclar e se
readaptarem.
18.08.2013 – Li no Globo
que, apesar da FAB ter colocado uma “lista de embarque” em seu site com o nome
dos políticos que usam os seus jatos executivos, a farra continua. Ou seja,
nossas “Marias Antonietas” estão nos mandando comer bolos. Aliás, tem uma outra
frase célebre, de Taylerand sobre os Bourbons: “Não aprenderam, não esqueceram
nada”. Aplica-se muito bem neste caso.
18.08.2013 – Ouvindo uma
entrevista coletiva das autoridades de segurança do Estado, sobre os tumultos
no Leblon e Ipanema, fiquei perplexo com a quase confissão de que as mesmas
estão incapazes de entender e enfrentar, na forma devida, os protestos e
tumultos que estão acontecendo. Acho que falta um pouco de humildade em ir se
aconselhar em quem tem experiência neste tipo de tumulto. Lembro agora que Los
Angeles, Washington e Paris sofrem, volta e meia, com este tipo de coisa. Por
que não se aconselhar com quem entende?
18.08.2013 - Por volta das
14:30, estou andando na Av. Rio Branco voltando do almoço e na esquina com a
Rua 7 de Setembro vem em minha direção um grupo de uns 30 jovens, todos com
camisetas da Jornada Mundial da Juventude. Entoavam um hino religioso,
acompanhando-se de 2 tambores e uns violões. O jornaleiro da banca de jornal da
esquina, assustado, começa a fechar rapidamente a banca de jornal. E os
passantes: "Calma, calma. É só o pessoal do Papa. Que tempos! Que hábitos!
Falei muito de jornal e
CBN. Este blog nasceu de observações minhas, nos meus deslocamentos diários e
nas viagens de férias e a trabalho que faço. E sou uma pessoa observadora. Mas,
ouço CBN-Rio todos os dias e reparei que desde 2010, o nível de reclamações da
população tem aumentado, e que as pessoas ficaram mais críticas e cobrando
mais. E muita gente passou a perceber que paga imposto e não leva nada em
troca, ou leva muito pouco.
E lembrei nestes dias o que
o novo âncora do CBN-Rio, o jornalista Otávio Guedes, falou logo que assumiu a
posição, no início deste ano. Ele falou que, dada a insatisfação da população
com os transportes de massa no Rio, a decisão da próxima eleição para
governador do estado, em 2014, poderia se dar pelo caminho de quem melhor
prometesse equacionar o problema. Quatro meses depois começaram os protestos e
o vetor foi o aumento na passagem dos ônibus. Eu imagino o número de
reclamações que rádios, TVs e jornais recebem – nos só lemos ou ouvimos a menor
parte. A percepção do jornalista foi profética.
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