sábado, 13 de julho de 2013

PORQUE EU APOIO O VOTO DISTRITAL


O voto, em uma democracia, é a infra estrutura mais básica. É através desta via que uma população se expressa.
Os recentes acontecimentos no Brasil demonstram que a sociedade não consegue se expressar através de seus representantes, e as razões são muitas. Mas acredito que a principal razão é que a distância entre os representantes e os representados ficou muito grande.
Gosto de história e não dá para esconder e vamos fazer uma retrospectiva. A nossa Constituição (1988) foi concebida para ser uma constituição em um regime parlamentarista (está aí a Medida Provisória que é típica do parlamentarismo). E era também pensada para o voto distrital. Condições políticas da época, principalmente pela mistura de Congresso Nacional e Assembleia constituinte únicos, levaram ao sistema que temos hoje.
O que vejo nas reclamações das ruas, como coisa comum – vejo que o povo reclama uma coisa e os nossos representantes veem outra coisa. Isto é típico de uma falência do sistema de representação que temos hoje. Votamos em um candidato e outro é eleito.
Outro ponto a ser lembrado é uma coisa cultural do brasileiro. O economista Sérgio Besserman sempre lembra de damos um valor enorme ao hardware e esquecemos do software. O hardware que temos é um mecanismo de votação dos mais evoluídos do mundo, e quase a prova de fraudes. A urna eletrônica, os sucessivos recadastramentos eleitorais e, agora, com o início da implantação de um sistema biométrico de controle, farão nossas eleições à prova de fraudes.
Mas e o nosso software, ou seja, o nosso sistema eleitoral?  Ele é fraco, pois nossos representantes não mais não representam. Nossos políticos se distanciaram da nossa realidade.
E não adianta reclamar que os nossos políticos são profissionais. Em qualquer sociedade moderna, os políticos são profissionais. E, pensando bem, desde que Roma inventou o tribuno da plebe, a profissão de político se tornou uma profissão. Adeus aos tempos de Coriolano ou Cincinato.
O que é o voto distrital? Divide-se o país em distritos, com base nos dados estatísticos de população, para que os distritos tenham mais ou menos o mesmo tamanho populacional. E vota-se em deputados que se candidatam para serem representantes do distrito.
Vários países tem o voto distrital, tais como Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, Canadá, etc. Entre eles existem pequenas variações, mas no fundo o eleito representa o distrito.
Por que acho isto vantajoso?
O sistema atual obriga ao candidato a deputado a percorrer um estado inteiro, tornando o custo da campanha altíssimo. No voto distrital, o candidato só percorre o distrito. Suponhamos que Copacabana e Leme seja um distrito (provavelmente será). O candidato pode fazer campanha praticamente a pé, e se reunindo em associações de moradores e de classe, clubes, grandes condomínios, etc Todos passarão a conhece-lo.
Após a eleição, tanto eleitores que votaram no vencedor como os que votaram em perdedores, terão mais condições de fiscalizar o eleito. Ou seja, teremos o popular “bafo no cangote” do eleito, e por duas razões. Os que votaram nele exigirão o cumprimento das promessas e os que não votaram, caso o eleito não cumpra a promessa, dirão: “Tá vendo? É traidor, por isso não votei nele”. E terremos um recall quase que imediato, pois na próxima eleição ninguém vota no deputado traidor.
Observo que temos uma mania de criticar nossos deputados quando das votações do orçamento e os deputados se engalfinham para aprovar suas emendas. Eles estão certos, o deputado deveria ser um representante de quem o elegeu. Só que atualmente, como ninguém sabe como ele chegou ali, às vezes, o objetivo da aprovação da emenda tem razões obscuras. No voto distrital, ficará mais claro a briga do deputado do distrito na briga pelas suas emendas, que necessariamente deverão favorecer ao distrito.
Alguém poderá me perguntar: “E como ficam os deputados que são eleitos pelo voto de opinião?”  Eu respondo que os temas de opinião, tais como aborto, casamento gay, etc necessariamente serão discutidos por eleitores e candidatos em seus distritos. Alguém tem alguma dúvida que todos gostarão de saber qual a opinião dos candidatos sobre estes temas, além dos temas paroquiais, tipo transporte, escola do bairro, saneamento, iluminação, policiamento, etc?
O voto distrital é bom, porque:
- Tem o efeito “bafo no cangote” – hoje não existe este efeito;
- Barateia o custo da campanha enormemente – o político deixa de mendigar no pós eleição para cobrir as despesas de campanha, e isto existe; e se o político perdeu, ele abre falência;
- Em algumas poucas eleições diminuirão o número de partidos, dependendo da regra de existência de partidos que se imporá pela mudança na legislação de voto – isto é uma coisa que teremos que ficar de olho.
Convido a quem estiver viajando aos EUA ou ao Reino Unido proximamente, para dar uma olhadinha na C-Span, canal de TV dos EUA equivalente a nossa TV Câmara e vai ver o deputado (o Rep de representative) discursando e pedindo verba para o seu distrito. No Reino Unido, todas as quartas feiras, o Primeiro Ministro vai ao Parlamento ao meio dia e fica lá respondendo às perguntas dos deputados por meia hora. É um show, vale a pena ver. Estas duas experiências são ricas e um bom exemplo de como é um voto distrital na prática.
Para quem quiser se informar mais sobre o voto distrital e assinar uma petição exigindo o mesmo, entre em www.euvotodistrital.org.br
E para quem gosta de cinema, eu citei Cincinato e Coriolano acima. Tem um filme danado de bom, baseado em Shakespeare, chamado Coriolano, dirigido e estrelado pelo Ralph Fiennes e com a Vanessa Redgrave e Gerard Butler. Vale a pena ver, pois é uma boa discussão sobre política.
Temos que mudar o nosso sistema político, sem sombra de dúvidas.

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