Como todos estão fazendo, eu
acompanho as recentes manifestações procurando entender o que ocorre, e
identificar os anseios gerais.
Sou da geração que foi para as
ruas nos anos 1960, estudei em um colégio onde as discussões políticas faziam
parte de nosso cotidiano desde os 11 anos de idade. E acredito que isto foi
muito bom para todos os que passaram pelo CAp/UFRJ naqueles anos.
Independentemente de posições ideológicas, ajudou a formar uma turminha muito
observadora e com uma visão ampla e crítica sobre quase tudo. E nossos
professores nos ensinaram a observar os fatos analiticamente.
Dessas manifestações que
acontecem diuturnamente, para mim a mais interessante foi a da população da
Rocinha, que fez uma passeata de São Conrado até a porta da casa do Governador
do Estado do Rio, no Leblon. A reclamação básica era: “Não ao teleférico, e
mais saneamento e creches”.
Isto me impressionou por ser
uma coisa direta e expressão da vontade de uma comunidade. Abro um parênteses.
Acho ridículo a imprensa carioca usar a palavra comunidade como eufemismo para
favela. Ora bolas, todos nós vivemos em comunidade. Ou não? Favela, é favela.
Pode ser a comunidade da Rocinha, do mesmo jeito que existe a comunidade do
Leblon, só para citar os 2 extremos sociais e bem próximos.
Mas voltando à passeata da
comunidade da Rocinha, lembro das reclamações das comunidades da Barra
(principalmente), Ipanema e Leblon, no tocante ao traçado da Linha 4 do Metrô.
Foram feitas audiências
públicas para se discutir o traçado da linha, e apesar das negativas e críticas
das referidas comunidades, bem como de diversos técnicos em transportes de
massa, a Linha 4 está sendo feita da maneira que o Estado bem entendeu.
Então para que fazer uma
audiência pública? Na verdade foi um “édito imperial”. Lembro que a figura da
audiência pública foi introduzida pela Constituição de 1988 (Art. 58, § 2o) para aprimorar os processos
legislativos. Por ter sido uma boa ideia, a prática espraiou-se e diversos
níveis e instâncias de governos a adotaram, e até a regulamentando em leis e
diversas normas.
Acho a audiência
pública uma boa alternativa e uma forma direta de se ouvir a população, ao
contrário de referendos e plebiscitos. Estes devem ser realizados para os macro
assuntos e as audiências públicas para os micro assuntos.
Voltando ao
assunto Linha 4. Barra, Ipanema e Leblon foram contra o traçado desta linha,
que na verdade se torna uma extensão da Linha 1. Os técnicos foram contra mas
nosso metrô é uma grande cobra serpenteando pela cidade. E de que adiantaram as
diversas audiências públicas. A única coisa que nossas autoridades disseram é
que havia um estudo de fluxos que comprovava que esta seria a melhor
alternativa. Mas, onde está este estudo? Por que não o colocam na internet à
disposição de todos. Que metodologia foi utilizada? Quem o fez? Quando e onde
foram feitas as pesquisas de campo? Quais as técnicas de amostragem utilizadas?
O que pergunto aqui é o básico de qualquer estudo e qualquer garoto ao fazer
seu trabalho final de graduação tem que lidar com estas perguntas (ou algumas
delas).
Enfim, as
audiências públicas realizadas foram meros comunicados oficiais do que iria ser
feito.
Mas e na Rocinha?
Lançaram um PAC 2, a nossa Presidente veio ao Rio e anunciou numa solenidade a
construção do teleférico no local. E o que a população fez na primeira
oportunidade? Fez passeata pedindo saneamento básico e creches. E o mais
importante foi que a imprensa entrevistou os manifestantes e a maior parte não
descartou a construção do teleférico. Mas simplesmente colocaram que o
teleférico será bom somente após de terem saneamento básico e mais creches públicas.
Ou seja, a
Rocinha, cartesianamente, colocou suas prioridades. Acredito que, ante as
recentes manifestações e ante a um desejo tão explícito como este, a Rocinha
ganhará seu saneamento básico e ganhará suas creches. E a Barra, Ipanema e
Leblon perderam nas suas demandas.
Por fim, eu só
espero que, em função dos enormes recursos que estão sendo gastos nesta “Linha
4”, não esqueçam de fazerem as devidas obras que permitam interligações com
Tijuca e Laranjeiras, na futura Estação Gávea. O traçado desta “Linha 4” só se
justifica se no futuro haja interligações da Gávea para Tijuca e Laranjeiras /
Botafogo. Mas isto será assunto de um outro post.
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