sexta-feira, 25 de agosto de 2017

ONIPOTENTE, ONIPRESENTE E ONISCIENTE (Ou quase, ou ainda, que Deus me perdoe)

Por onde começar? São tantas anotações, lembranças e assuntos, que fica difícil fazer uma escala de prioridades.

E aí, lembrei-me de um fato acontecido por volta de 2003 ou 2004. Quase perdi a paciência com um grande amigo com o assunto MULTIBANCO. O amigo é o Sérgio Leite, já citado no post anterior. Sérgio morou por muito tempo em Portugal, e acompanhou de perto o antes, o durante e o depois da entrada de Portugal na Comunidade Européia. No início deste século, retornou ao Brasil e nos associamos. 

Voltando de uma empresa onde tínhamos deixado uma proposta de trabalho, ele, mais uma vez, reclama sobre o fato do Brasil não ter o Multibanco. "Como este país, mais evoluído que Portugal, não tem Multibanco?". "Por que eu tenho que andar com 2 cartões de crédito, cartão de tudo quanto é banco em que tenho conta?" Perdi as estribeiras no meio da Av. Rio Branco, porque esta era a enésima vez que ele reclamava disto.

E eu: "Não tem, para de falar nisso, ou volta pra Portugal. pombas! Lá tem, pronto!" Quem visse, acharia que éramos doidos, dois sujeitos engravatados discutindo sobre um multibanco.

Agora, vamos à explicação da importância do Multibanco. Portugal, na preparação para a entrada para a Comunidade Européia - CE, percebeu que tinha que dar saltos, principalmente na área tecnológica, para tentar chegar perto dos outros países da comunidade. A diferença, à época, tanto em tecnologia como na economia, era enorme.

Estes aspectos foram observados em todos os setores, sejam na área de tecnologia bancária, telecomunicações, pedágios (portagens, por aqui) etc. E Portugal percebeu que o país, na área bancária, teria que dar um salto grande, por conta do baixo nível de bancarização (poucas pessoas com contas em bancos) e dificuldades nos pagamentos de contas. Desta forma, o país adotou uma forma inteligente de facilitar a vida dos cidadãos, e, à reboque, do próprio governo. 

O Multibanco é um cartão, multiuso, podendo ser de débito e de crédito, ao mesmo tempo. Cada banco coloca sua bandeira no cartão, mas o mesmo é utilizável em qualquer terminal de qualquer banco. É gerido por uma empresa e todos os bancos estão dentro do sistema.

E porque ele é onipresente? Ele está em todos os pontos de Portugal. Em estatísticas de fins do 2º trimestre de  2017, já eram 11.956 terminais ativos em todo o país. Só o distrito de Lisboa (2.974) e do Porto (1.843) representam 40,3% de todas as máquinas do país. São terminais em todas as portas de bancos, em shoppings, aeroportos, estações de metrô, de trens, terminais rodoviários, enfim em tudo quanto é canto.

E a onipotência. Esse é o maior barato do multibanco. Imagine o menor boteco possível, no lugar mais remoto possível de Portugal - olhem que nestes 11 meses aqui fui a lugares remotos, somente 1 vez o GPS do celular me mandou para o fim do mundo quando procurava chegar num outlet, e parei num boteco para perguntar direções e tomar um café, que paguei com meu cartão multibanco.

E outra vantagem dessa onipotência, você´paga o que quiser, o quanto quiser (desde que tenha $$ na conta), não tem limite por dia, nem nada, basta o dindin na conta.

Agora, falando de contas públicas. E de curiosidades demográficas ligadas a isso. E aí entra a onisciência. Você vai uma repartição pública, qualquer que seja ela, um cartório de registro civil (são públicos aqui), e tá lá a maquininha do cartão pra você pagar a taxa, o imposto, a tarifa de serviço. Ou seja, quero fazer o registro de nascimento ou de casamento, paga a taxa com o cartão e a grana vai direto pro caixa do governo. No Brasil, os bancos giram pelo menos 48 horas com dinheiro do Tesouro (seja estadual, municipal ou federal). Aqui, o governo põe logo a mão na grana. E a curiosidade demográfica é que português com menos de 40 anos de idade não sabe o que é guia de pagamento. É aquela bendita guia que você pega em qualquer repartição pública brasileira ou imprime pela internet e, às vezes não dá nem para pagar pela internet. Você tem que ir numa agência bancária, às vezes só dá para pagar naquele banco que tem exclusividade para aquilo, e você perde tempo.

Em um terminal multibanco você faz tudo o que você precisa fazer em um banco. Simples.

Multibanco ainda vai render mais um post, por hoje já basta. E mais uma estatística, até 30.06.2017 foram mais de 211 milhões de saques (levantamentos, por aqui), totalizando mais de 13,6 bilhões de euros. Em operações nas máquinas multibanco (saques, pagamentos, etc) foram quase 450 milhões de operações totalizando quase 31 bilhões de euros.

No próximo post, minha experiência com o Multibanco.

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