quinta-feira, 3 de maio de 2018

UM PAÍS DE PREÇOS BAIXOS *

Meus amigos e conhecidos têm uma grande curiosidade sobre o custo de vida em Portugal, e quando falo dos preços de produtos de consumo em geral todos se surpreendem.
Temos que ter em mente que Portugal assume que é um país pequeno, de parcos recursos, que sua população tem baixa renda. E isto tudo acontece apesar de o PIB per capita de Portugal ser 2,3 vezes maior que o do Brasil.
A explicação destes custos mais baixos, mesmo com uma taxa de câmbio turismo para (euro /real) ter chegado a R$ 4,30 por euro neste final do mês de abril, talvez seja explicado por que Portugal mantêm baixos custos de transação.
Para quem não é economista, eu explico. Além dos custos de produzir um determinado bem ou serviço, existem outros custos que impactam o preço final do produto. São os custos de distribuição, o número de intermediários envolvidos (quanto maior mais esforço do produtor em controlar), etc. E, é óbvio que quanto maior for a dificuldade de fazer o produto chegar ao cliente, ou mesmo, quanto mais intermediários houverem, mais caro serão os bens e serviços.
Um exemplo bem básico é o sistema Multibanco, fato que já mencionei em artigos aqui no JB. Ele elimina uma série de intermediários, seja no pagamento de impostos (o dinheiro sai da sua conta e cai direto no caixa do tesouro português), seja na compra de bens e serviços, onde o mesmo acontece, pois ele é um cartão de débito, com baixíssimas taxas de administração por parte do consórcio Multibanco.
Outro fato interessante são os supermercados, que na verdade são mini mercados espalhados pelas cidades e vinculados à grandes redes. Você só encontrará grandes supermercados semelhantes aos do Brasil dentro de grandes shoppings, como lojas âncoras do shopping. Os outros, na verdade, são franquias da rede. Desta forma, mantam-se a economia de escala, mas a grande rede economiza porque não possui o controle de armazenagem e de estoque das pequenas lojas, transferindo esta economia para o consumidor. Fazer supermercado em Portugal é bem barato, se comparado com o Brasil. E você terá a vantagem ainda de levar um bom vinho para casa. Aliás, o assunto vinhos será abordado em próximos artigos.
Mencionei, também em artigo anterior, o que se economiza em custos cartoriais em Portugal. Apesar de dizermos que herdamos de Portugal a cultura cartorial brasileira, não vi por lá a cultura da firma reconhecida e da cópia autenticada. Se você leva a cópia de um documento e o seu original a qualquer repartição pública, por exemplo, ou a um cartório de registro civil – são públicos, o documento é autenticado pelo próprio funcionário que o recebe, sem custos. Idem, a cultura da certidão negativa disso ou daquilo, que já citei quando contei a história da compra de um imóvel por um amigo meu. A “caderneta do imóvel”, documento público, historia a vida do imóvel, não se necessitando a quantidade de certidões necessárias para se adquirir um imóvel no Brasil.
Os bancos também perceberam que não têm mais como aumentar as taxas pelos seus serviços. Spreads altos de juros, nem pensar, até porque a inflação é baixa e a taxa básica de juros também. Desta forma, os bancos viraram balcões de serviços financeiros, vendendo seguros, planos de saúde, entre outras coisas. Praticamente morreu a figura deste tipo de corretagem, ou seja, menos um intermediário.
E um fato importante, na busca pela diminuição dos custos de transação, é que o empresário português procura estar sempre em sintonia com o cliente. Aliás, um grande amigo meu, que lá morou por uns bons 15 anos, sempre me alertou para isso. O que um bom comerciante português mais odeia é perder uma venda. Desta forma, ele está sempre em sintonia com o cliente e procura sempre agradá-lo. E tira o intermediário deste jogo, porque o que agrada cliente é preço baixo. A ligação é direta, sem ter o custo daquele call center te perturbando dia e noite. O call center português é para ouvir reclamação, mesmo. E, na maior parte das vezes é próprio e não terceirizado. A conexão com o cliente se faz através das promoções, avisadas por SMS para o seu celular, ou através do bom e já velho e-mail, custo mais baixo do que manter call center. E nos supermercados, o aviso da promoção é feita pelo ticket de caixa, custo baixo também.
Enfim, Portugal é um país barato para se viver, mesmo entre os europeus. Uma das explicações, é que o país está sempre a procura de diminuir os seus custos de transações, diminuir de intermediários, aliados a sistemas altamente informatizados e com uma logística de transportes excelente.

* Publicado no JB de 03.05.2018 com o título de “Spread barato? Vá para Portugal”

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