Dentro da tradição histórica de encarar o futuro de
frente, mania portuguesa desde a fundação do país, no século XII, Portugal está
atacando um problemão que tem pela frente.
Quando passei uma temporada de quase um ano em
Portugal, acompanhando minha mulher que lá foi estudar, fiquei impressionado
com a quantidade de estrangeiros que estavam passando a residir no país. É,
estrangeiros de tudo quanto é lugar, e os brasileiros não têm a primazia nisto.
Segundo estatísticas do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal (SEF),
os povos de língua portuguesa ainda são a maioria dos residentes estrangeiros,
liderados pelos brasileiros, e seguidos por angolanos, moçambicanos,
cabo-verdianos. Mas, a partir de 2015, o
maior percentual de crescimento nos pedidos de concessão de vistos de
residência são de franceses, seguidos por ingleses, alemães e holandeses.
E qual a razão para tal afluxo de estrangeiros para
Portugal? São as vantagens fiscais concedidas para quem fixa residência por lá,
conjugado com a facilidade de concessão dos vistos de residência e de
cidadania. As vantagens são inúmeras, tais como pode abrir conta em banco como
não residente fiscal, a existência da figura do contribuinte eventual de
imposto de renda (taxado a 20% na fonte), entre outros. E estamos falando de
pessoas de certa idade e com renda, principalmente de aposentadorias. Mas e os
jovens? Portugal aceita as notas do ENEM brasileiro para matrícula em
universidades, o país já pratica os artigos do Protocolo de Bolonha (conjuga a
graduação com o mestrado) que na prática, com mais seis meses ou um ano de
estudos, o aluno sai com o bacharelado e o mestrado completos, o país tem cotas
para estudantes da comunidade europeia e fora dela, cotas para professores
estrangeiros, etc.
Nos próximos artigos que escreverei por aqui irei
abordar alguns destes aspectos detalhadamente, e procurar demonstrar a
importância deles, tanto para Portugal como para quem vai para lá, mesmo que
seja por uma temporada.
Mas por que Portugal está fazendo tudo isto? O país
tem uma armadilha populacional pela frente. O país possui hoje por volta de
10,3 milhões de pessoas e as projeções indicam que em 2080 serão 7,5 milhões,
já ficando abaixo dos 10 milhões em 2031. Para 2080, o número de jovens cairá
dos atuais 2,1 milhões para 0,9 milhão, com a subida do número de idosos de 2,1
milhões para 2,8 milhões. A consequência disto é a diminuição da população
economicamente ativa os atuais 6,7 milhões para somente 3,8 milhões em 2080.
Ou seja, se nada for feito, Portugal em 2080 deixa de
ser economicamente viável como nação. E, só estamos falando de números, sem ser
levado em conta a revolução na economia que já se inicia, a economia 4.0 (ou
Gig Economy). Resumo da história: Portugal precisa de gente lá dentro
estudando, trabalhando e gastando.
Ou seja, toda esta atração por Portugal, as suas
premiações como melhor destino turístico por anos seguidos, as vantagens para
se fixar por lá, fazem parte de um planejamento global que visa eliminar, ou
minorar, esta armadilha que o país tem ela frente.
Quem resolver nos acompanhar aqui nas páginas do JB
vai ter que ter sempre em mente esta equação populacional, porque tudo o que
acontece por lá tem isto por premissa.
E quem quiser maiores detalhes, basta entrar no site
do Instituto Nacional de Estatística de Portugal (INE) em www.ine.pt.
Nenhum comentário:
Postar um comentário