Vários
amigos e conhecidos me perguntam como fazer para estudar em Portugal. Muitos
destes amigos têm filhos que pretendem fazer uma graduação ou mesmo, um
mestrado ou doutorado na “terrinha”.
O
assunto é complexo, mas tentarei resumir o possível. Portugal, desde 1999, é um
dos países signatários do Protocolo (declaração) de Bolonha. Dentro do processo
de formação e consolidação da Comunidade Europeia, naquele ano 30 países
europeus assinaram um documento onde se comprometiam, até 2010, efetuar uma
compatibilização de currículos nos níveis de graduação (licenciatura), mestrado
e doutorado, visando a mobilidade e portabilidade dos diplomas e, mesmo as
transferências, ao longo dos cursos, dentro dos países signatários. Hoje já são
45 países que participam deste acordo.
Desta
forma, um diploma obtido em Portugal é imediatamente reconhecido por qualquer
país signatário do acordo. Mais ainda, se o aluno, no meio do curso, pretende
se transferir para uma outra universidade em país signatário, a compatibilidade
de currículos permite isto.
Dentro
deste acordo, foi aberta a possibilidade de fazer-se um ciclo integrado entre
graduação ou licenciatura (em português de Portugal) e mestrado, pois
entenderam aqueles que formataram o acordo que isto evitaria a repetição de
cadeiras de graduação nos cursos de mestrado. Significa dizer que, por exemplo,
um curso de economia ou administração (gestão para os portugueses), que
possuíam graduação de 4 anos e um mestrado com 2 anos, passam a ter,
quando no ciclo integrado, duração de 5 anos. O aluno ao fim de 3 anos recebe o
diploma de graduação, com o compromisso de terminar o mestrado dois anos após.
Conversando
com diversos amigos professores aqui no Brasil, vejo que este assunto é
polêmico, e muitos acreditam que isto significa um empobrecimento dos cursos de
graduação. Eu, no entanto, vejo pelo lado positivo. Prende-se o aluno mais um ou
dois anos na universidade. O aluno, desde o início do ciclo integrado, vai
estar focado na obtenção do título de mestre, pensando na sua dissertação de
mestrado e vai estar trabalhando sob a orientação de um professor. Este, por
sua vez, tentará colocar o aluno em um tema que seja concatenado com sua linha
de pesquisa. Desta forma, o resultado positivo é para ambos, aluno e professor.
Para os países signatários significa um salto quantitativo e, possivelmente
qualitativo, nas pesquisas efetuadas nestes trabalhos. Isso, para mim,
lembram-me as aulas de física, o princípio da massa crítica atômica.
Aumentando-se a massa, uma hora explode, ou seja, novas descobertas, patentes,
prêmios, etc.
Portugal
tem 32 instituições de ensino superior públicas e 122 privadas. As
universidades públicas possuem anuidades (propinas, é isso mesmo – propina tem
significado diferente). Aliás, nada é grátis em Portugal, não existindo idoso,
estudante, grávida etc. Todo mundo paga tudo, sendo que em alguns locais
existem descontos para estudantes, idosos, etc. O valor das anuidades varia de
universidade para universidade, mesmo nas públicas. As universidades mais
requisitadas, normalmente em Lisboa, Coimbra e Porto, têm as propinas mais
caras. As universidades das cidades menores são mais baratas. O governo
português dá um subsídio para as públicas baseado número de alunos matriculados
em cada curso, e, não atingindo o número mínimo de alunos matriculados, o curso
é encerrado e a universidade perde o subsídio correspondente. E, é claro que
professores e funcionários são realocados ou mesmo, dispensados.
Por
que cito isto? Para demonstrar que as universidades das cidades menores correm
atrás de alunos, porque os possíveis alunos daquelas cidades migram para os
centros maiores. Mas, ressalto que, pela compatibilização de currículos, o
nível dos cursos é muito semelhante aos grandes centros. Pude testemunhar isto
em visitas a universidades em cidades do interior, com boas instalações e com
professores de nível internacional, participando de pesquisas conjuntas com
boas universidades do exterior.
E,
finalmente, custos e facilidades para o estudante brasileiro. As universidades
portuguesas aceitam o ENEM brasileiro para a matricula de alunos. Existem cotas
para os estudantes da Comunidade de Povos de Língua Portuguesa – CPLP. E, o
custo é bem mais baixo do que estudar numa universidade privada no Brasil, ou
mesmo fazer um 2º grau em colégio privado. Como exemplo, cito os cursos de
economia da Universidade do Porto, cidade onde morei e tenho alguns amigos
nesta faculdade. As propinas para o período 2017/2018 são de 1,500€
(licenciatura), 2,500€ (mestrado) e 3,000€ (doutorado), o que corresponde,
usando-se um câmbio de R$ 4,10 por €, a R$ 6.150,00, R$ 10.250,00 e R$ 12.300,00.
Um
lembrete importante é que em alguns cursos, principalmente os de mestrado e
doutorado nas áreas de finanças e gestão, as aulas são em língua inglesa.
Para
maiores informações e detalhes pesquisem em www.universia.pt.
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Publicado no Jornal do Brasil em 02/04/2018
Obrigado, Maurício, por compartilhar seu interessantíssimo conhecimento sobre a vida em Portugal. Seus artigos, bem redigidos, são cheios de novidades e curiosidades. Um abraço!
ResponderExcluirSó uma dúvida, Maurício: os valores das propinas mencionados em seu artigo são mensais ou anuais?
ResponderExcluirSão anuais. Bem mais baratas que as brasileiras.
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